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quinta-feira, 10 de março de 2011

Petróleo sob ataque: Combates na Líbia chegam a complexos, fecham 2 refinarias e explodem tanques de combustível


A guerra entre as forças do ditador líbio, Muamar Kadafi, e grupos rebeldes atingiu ontem a principal riqueza do país: os complexos petrolíferos. As bombas e contra-ataques levaram ao fechamento de duas das maiores refinarias líbias, Zawiya e Ras Lanuf; destruíram um oleoduto no leste; e fizeram ir pelos ares tanques de armazenamento na costa rebelde. Os ataques indicam também a intensificação da ofensiva contra Ras Lanuf, no leste, enquanto uma sangrenta batalha deixava pelo menos 40 mortos em Zawiya, no oeste.

Os dois lados trocam acusações, com os grupos opositores afirmando que as tropas de Kadafi bombardearam o oleoduto em Sidra, além de explodirem tanques no terminal de Ras Lanuf, enquanto a TV estatal culpava "elementos apoiados pela rede terrorista al-Qaeda". Independente do responsável pelas explosões - ou se tinham os complexos como alvos - elas causaram o fechamento da refinaria de Ras Lanuf, a maior processadora de petróleo cru do país. A TV al-Jazeera afirmou que o complexo de Ras Lanuf fora atingido e mostrou grandes colunas de fumaça. Para os rebeldes, trata-se de uma estratégia de Kadafi para assustar o Ocidente.
- Kadafi está fazendo um jogo sujo ao atingir os oleodutos - acusou Essam Gheriani, um rebelde do governo de Benghazi.

A explosão de bombas e foguetes mostram que as forças do regime estão muito mais próximas de Ras Lanuf do que se imaginava. Pelo menos quatro pessoas morreram. Colunas de fumaça na direção de Bin Jawad, a 65 quilômetros de distância, indicavam novos combates na cidade, retomada dias atrás pelas tropas do governo. Os rebeldes disseram ter conseguido chegar até ela, mas estavam sendo atacados por ataques aéreos.

Explosões também foram registradas no complexo de Sidra, a 580 quilômetros de Trípoli, com três colunas negras de fumaça sendo vistas. Segundo as forças opositoras, um oleoduto entre a cidade a Ras Lanuf foi atingido, e o porto, parcialmente destruído. Um engenheiro que trabalha no terminal contou que quatro tanques, cada um com capacidade para 150 mil galões, explodiram. Usinas de energia e de tratamento de água também foram danificadas.

Junto com Brega, os portos de Sidra e Ras Lanuf respondem por 715 mil barris de petróleo, ou 45% das exportações. As batalhas próximas, que fazem empregados fugir e que agora danificam os complexos, levaram a produção cair de 1,6 milhão de barris por dia para cerca de 500 mil, informou ontem a Corporação Nacional de Petróleo da Líbia.

Recompensa por líder rebelde

Os bombardeios e os intensos combates com artilharia pesada perto da refinaria de Zawiya, no oeste, forçaram seu fechamento. A cidade, a 50 quilômetros de Trípoli, é palco da mais sangrenta batalha entre as duas forças, e moradores já diziam ontem que o governo tomara sua praça principal, onde os rebeldes passaram boa parte do dia cercados, alvo de tanques e de franco-atiradores. A TV estatal exibiu imagens de Zawiya, com centenas de pessoas com fotos de Kadafi, mas não estava claro quando foram filmadas. As linhas telefônicas quase não funcionam e é difícil verificar a situação.

- Nós recuamos e eles estão na praça, mas vamos atacá-los e recuperá-la - disse um combatente anti-Kadafi por telefone.
A praça já mudou de mãos várias vezes nos últimos dias, deixando sempre uma pilha de mortos a cada combate. Médicos contaram ter muitos corpos pelas ruas, incluindo de mulheres e crianças. Segundo a al-Jazeera, entre as dezenas de mortos estão vários membros das forças de Kadafi, incluindo um coronel e um general.

Na TV estatal, Kadafi conclamou os líbios do leste a retomarem o controle das cidades hoje sob poder dos rebeldes. Ele falou também à TV turca, e afirmou que os líbios lutariam se o Ocidente impusesse uma zona de exclusão aérea para impedir os bombardeios a rebeldes. Para ele, as restrições comprovariam o interesse da comunidade internacional no petróleo líbio.

- Tal situação seria útil. O povo líbio entenderia os verdadeiros objetivos para pôr a Líbia sob controle, levar sua liberdade e seu petróleo. E todo o povo líbio pegaria em armas.

O governo ofereceu ainda uma recompensa de 500 mil dinares (R$660 mil) pela captura de Mustafa Abdel Jalil, e 200 mil (R$265 mil) a quem der informações sobre ele. Ex-ministro da Justiça, Jalil hoje é o líder do Conselho Nacional Líbio, formado pelos rebeldes. O governo o descreve como "um agente espião".


Fonte: O Globo

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