Páginas

quinta-feira, 17 de março de 2011

IMPERIALISMO FAMINTO: Potências se preparam para intervenção militar na Líbia


O governo britânico ordenou à cúpula militar do país a finalização do plano para impor uma zona de exclusão aérea na Líbia, informou o jornal britânico The Guardian. A Força Aérea Britânica (RAF, na sigla em inglês) está de prontidão. Na noite de quinta-feira, 17, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que autoriza o uso de "todos os meios necessários" para proteger os civis das tropas leais ao ditador Muamar Kadafi.

Fontes diplomáticas francesas disseram que a ação militar poderia ser iniciada em poucas horas e incluiria a participação da França, Grã-Bretanha, e possivelmente os EUA e uma ou mais nações árabes.


Os caças Tornados da RAF devem ser os primeiros a atacar a defesa antiaérea de Kadafi. Os aviões, baseados na Escócia e em Norfolk, cidade no leste da Inglaterra, utilizariam bases no sul da França ou no Chipre. O Canadá ofereceu seis caças CF-18 para auxiliar na imposição da zona de exclusão aérea.

A Itália, por sua vez, disponibilizou suas bases militares para garantir o cumprimento da resolução, segundo a Reuters. A base aérea de Sigonella, na Sicília, que fornece apoio logístico à Sexta Frota do Estados Unidos, é uma das bases da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mais próximas à Líbia e poderá ser usada na ação.

"É um desenvolvimento positivo", afirmou uma fonte italiana após  a sessão do Conselho de Segurança. Questionado sobre se a Itália iria oferecer suas bases para a aplicação da resolução da ONU, a fonte disse: "Sim, dissemos que estamos prontos para fazê-lo".

O Egito começou a fornecer armas de pequeno porte, como rifles e munição, para rebeldes no leste da Líbia, com o aval dos Estados Unidos, segundo o The Wall Street Journal. É o primeiro esforço conhecido de um governo estrangeiro para armar a oposição a Kadafi.



EUA cogitam treinar rebeldes

Na avaliação de alguns países, mesmo a zona de exclusão aérea não será suficiente. A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, disse antes da votação que talvez sejam necessárias medidas ainda mais restritivas para conter o regime líbio. Os EUA e seus aliados poderiam também enviar militares para assessorar e treinar os rebeldes, disse um oficial americano.

Demonstrando a importância da questão para a França, o próprio chanceler Alain Juppé compareceu ao conselho em Nova York e disse que a "obrigação dos franceses não é dar lições, mas ajudar as pessoas a decidir seu futuro. A situação na Líbia é alarmante. Não podemos abandonar a população civil diante da repressão. Temos pouco tempo. É uma questão de dias. Ou mesmo de horas. Cada hora que passa, aumenta o peso sobre os nossos ombros. Não podemos atuar tardiamente".


EUA convoca França e Reino Unido para ação na Líbia

O presidente Barack Obama convocou nesta quinta-feira, 17, os líderes de França e Grã-Bretanha para coordenar a estratégia de intervenção na Líbia, após a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que autorizou o uso da força contra as tropas do ditador Muamar Kadafi, informou a Casa Branca.

A Alemanha absteve-se na votação na ONU que definiu a resolução de usar a força contra Kadafi. Segundo o ministro alemão de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, uma intervenção militar contra a Líbia implicará "riscos e perigos consideráveis", e por isso, nenhum soldado da Alemanha participará da operação.



ONU autoriza intervenção na Líbia

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nesta quinta-feira, 17, a imposição de uma zona de exclusão aérea na Líbia e a adoção de todas as medidas necessárias para impedir o massacre de civis por tropas do ditador Muamar Kadafi. A medida recebeu dez votos favoráveis (EUA, Reino Unido, França, Líbiano, Bósnia e Herzegovina, Colômbia, África do Sul, Nigéria, Gabão e Portugal) e cinco abstenções: Brasil, China, Rússia, Índia e Alemanha. Tropas americanas, francesas, britânicas e de dois países árabes devem participar da ação militar.

A decisão foi tomada um mês depois do início dos protestos pela derrubada do ditador, e uma semana após Kadafi ganhar terreno, em uma ofensiva que retomou diversas cidades do oeste da Líbia das mãos da oposição e chegou às portas de Benghazi, a capital rebelde.

As negociações estiveram sob o comando da França, do Reino Unido e do Líbano. Os Estados Unidos se envolveram mais intensivamente nos últimos dias depois que a Liga Árabe e a União Africana se posicionaram a favor da zona de exclusão aérea. O desafio, ao longo dos últimos dois dias, foi convencer a China e a Rússia a não vetarem a resolução.

A resolução também congelou os bens de mais sete indivíduos e cinco companhias, que se juntam aos membros do regime de Kadafi e seus familiares que já haviam sido punidos na resolução aprovada em fevereiro. Também reforçaram o embargo de armas. Para completar, o texto pede um cessar-fogo imediato.



Ação imediata 

Mais cedo, a França indicou que poderia participar de uma ação militar tão logo a ONU desse o sinal verde. "A partir do momento em que a resolução for aprovada, ações militares poderão começar nas horas seguintes", disse uma fonte diplomática francesa à AFP. "Ataques aéreos poderão começar já neste entardecer, ou amanhã, sexta-feira".

O ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, sinalizou que o país deve liberar a base na Sigonella na Sicília em uma eventual operação. "Não vamos nos esquivar de nossos deveres, ainda que defendamos a moderação", disse à Ansa.



'Vamos responder. Faremos de sua vida um inferno', ameaça Kadafi

Minutos depois de a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovar uma intervenção internacional na Líbia, o ditador Muamar Kadafi disse que a decisão do órgão é "um ato flagrante de colonização" ilegal.

"Isso é loucura, insanidade, arrogância. Se o mundo enlouquecer, enlouqueceremos junto. Vamos responder. Faremos de sua vida um inferno, porque estão fazendo isso da nossa. Eles nunca terão paz", disse o ditador ao canal português RTP, citado pelo jornal britânico The Guardian.
Mais cedo, o ditador, que está há 40 anos no poder, já havia dito que suas forças estavam prontas para atacar Benghazi, principal reduto rebelde. "Está decidido. Estamos chegando. Não teremos misericórdia".

O Ministério de Defesa da Líbia também havia ameaçado retaliar qualquer intervenção internacional. "Qualquer operação militar contra a Líbia vai expor todo o tráfego aéreo e marítimo no Mediterrâneo ao perigo. E qualquer tráfego civil ou militar será alvo de uma contraofensiva líbia. A bacia do Mediterrâneo será exposta a um perigo grave, não apenas no curto prazo, como também no longo prazo", disseram as autoridades.

A resolução que aprova a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia passou nesta quinta-feira, 17, pelo Conselho de Segurança da ONU por dez votos e favor e cinco abstenções. Os países que se abstiveram foram Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha. Votaram a favor França, Reino Unido, Líbano - os três principais apoiadores da medida -, EUA, Gabão, Nigéria, Colômbia, África do Sul, Portugal e Bósnia.

A resolução permite que sejam tomadas "todas as medidas necessárias" para "proteger civis e áreas habitadas por civis que estão sob ameaça de ataque (na Líbia), incluindo Benghazi, embora uma força de ocupação esteja excluída". A cidade citada no texto é o principal reduto dos opositores e a segunda maior do país.

A zona de exclusão aérea havia sido pedida pelos rebeldes líbios, que lutam para derrubar Kadafi há um mês. Eles se levantaram contra o coronel inspirados nas revoltas que derrubaram os regimes ditatoriais da Tunísia e do Egito no início do ano. O coronel tem usado aviões para bombardear os insurgentes e a imposição de uma zona de exclusão aérea os favoreceria.



Intervenção pode gerar mais danos do que benefícios, diz Brasil na ONU

A representação brasileira nas Nações Unidas se absteve na votação que aprovou uma intervenção militar na guerra civil Líbia. Após a resolução passar na votação do Conselho de Segurança, a embaixadora brasileira Maria Luiza Viotti atribuiu a posição do país ao texto da resolução.

"O problema está no texto da resolução. As medidas adotadas podem gerar mais danos do que benefícios. Mas não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio". Além disso, segundo a representante brasileira junto à ONU, os movimentos no mundo árabe têm crescido internamente, e uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países.

A abstenção brasileira ocorre às vésperas da visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, neste fim de semana. O governo brasileiro há anos tenta conseguir apoio para a inclusão do país entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Na votação de ontem, a posição da administração brasileira foi contrária aos interesses dos americanos.

A votação dividiu o Conselho de Segurança. Nem mesmo os europeus estavam unidos. A Alemanha também optou pela abstenção. Além de alemães, brasileiros, russos e chineses, a Índia também não apoiou a nova resolução. Na votação anterior, em fevereiro, quando aprovaram que Kadafi seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional, houve unanimidade.

Na avaliação de alguns países, mesmo a zona de exclusão aérea não será suficiente. A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, disse antes da votação que talvez sejam necessárias medidas ainda mais restritivas para conter o regime líbio. Franceses e libaneses debatiam o estabelecimento de uma zona de exclusão terrestre.

Leia a íntegra da declaração da embaixadora


“Senhor Presidente,

O Brasil está profundamente preocupado com a deterioração da situação na Líbia. Apoiamos as fortes mensagens da Resolução 1970 (2011), adotada por consenso por este Conselho. O Governo do Brasil condenou publicamente o uso da violência pelas autoridades líbias contra manifestantes desarmados e exorta-as a respeitar e proteger a liberdade de expressão dos manifestantes e a procurar uma solução para a crise por meio de diálogo significativo.


Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitarem-se os seus direitos. O Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança, maior participação política, oportunidades econômicas e justiça social.


Condenamos o desrespeito das autoridades líbias para com suas obrigações à luz do direito humanitário internacional e dos direitos humanos. Levamos em conta também o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que dêem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea. Somos sensíveis a esse chamado, entendemos e compartilhamos suas preocupações.


Do nosso ponto de vista, o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução levará à realização do nosso objetivo comum – o fim imediato da violência e a proteção de civis.


Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos.


Muitos analistas ponderados notaram que importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local. Estamos também preocupados com a possibilidade de que o emprego de força militar conforme determinado pelo OP 4 desta resolução hoje aprovada possa alterar tal narrativa de maneiras que poderão ter sérias repercussões para a situação na Líbia e além.


A proteção de civis, a garantia de uma solução duradoura e o atendimento das legítimas demandas do povo líbio exigem diplomacia e diálogo. Apoiamos os esforços em curso a esse respeito pelo Enviado Especial do Secretário-Geral e pela União Africana.


Nós também saudamos a inclusão, na presente resolução, de parágrafos operativos que exigem um imediato cessar-fogo e o fim à violência e a todos os ataques a civis e que sublinham a necessidade de intensificarem-se esforços que levem às reformas políticas necessárias para uma solução pacífica e sustentável. Esperamos que tais esforços continuem e tenham sucesso.
Obrigada.”


Fonte: Estadao

Nenhum comentário:

Postar um comentário