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terça-feira, 8 de março de 2011

Forças de Kadafi tentam sufocar rebeldes no oeste e leste da Líbia


Tropas, tanques e aviões de guerra do governo líbio atacaram rebeldes nas frentes ocidental e oriental nesta terça-feira, intensificando a campanha para sufocar a insurreição contra Muammar Kadafi. A artilharia governamental bombardeou Zawiyah, a cidade em mãos rebeldes mais próxima da capital, Trípoli, enquanto os moradores assustados se escondiam do ataque, disseram testemunhas.

No leste do país, uma faixa que está sob controle rebelde, ataques aéreos atingiram posições rebeldes atrás da linha de frente em volta da cidade petrolífera de Ras Lanuf, na costa mediterrânea.  Aparentemente não assustada pela exibição de força renovada de Kadafi, a liderança rebelde disse que se Kadafi renunciar em 72 horas, não vai levá-lo à justiça.

Mais cedo, os rebeldes disseram que rejeitaram uma oferta do líder líbio de negociar sua entrega do poder. O governo negou que qualquer discussão desse teor tenha acontecido.  Na frente internacional, governos estrangeiros se esforçaram para acordar uma estratégia unificada para lidar com a turbulência no país produtor de petróleo, que Kadafi governa em estilo autocrático e quixotesco desde que tomou o poder em um golpe militar, em 1969.



Grã-Bretanha e França lideraram um esforço nas Nações Unidas para declarar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, algo que impediria Kadafi de lançar ataques aéreos ou convocar reforços do exterior por via aérea. Mas a Rússia e a China, que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, mostraram-se avessas à ideia.

O governo dos EUA, cujas intervenções no Iraque e Afeganistão enfureceram muitos dos muçulmanos do mundo, disse que estuda o que poderia ser conseguido com o uso de opções militares. As forças de Kadafi lançaram um ataque com tanques e artilharia nesta terça-feira para recapturar Zawiyah, situada a 50 quilômetros a oeste de Trípoli e perto de uma importante refinaria de petróleo. Rebeldes ainda controlam a praça central da cidade e estavam usando alto-falantes para convocar os moradores a ajudar a defender suas posições, disse uma testemunha, um trabalhador de Gana que fugiu da cidade na terça-feira pela manhã.

Zawiyah vem sendo foco de combates intensos há dias, e o grupo oposicionista exilado Solidariedade Líbia de Direitos Humanos disse que as forças do governo estão apertando o cerco à cidade.  "Os rebeldes estão no controle, mas há uma troca de tiros acontecendo", disse o ganense. "Eles estão na praça."

Um porta-voz do governo disse que as tropas governamentais estão controlando a área, mas que um grupo de combatentes rebeldes ainda está opondo resistência. "Possivelmente 30-40 pessoas estão escondidas nas ruas e no cemitério. Estão desesperadas", disse o porta-voz à Reuters em Trípoli.

Um líbio que vive no exterior contou que conversou ao telefone na terça-feira com um amigo em Zawiyah que descreveu cenas de desespero na cidade.  "Muitos prédios estão totalmente destruídos, incluindo hospitais, cabos de eletricidade e geradores", disse ele. "As pessoas não têm como fugir, a cidade está cercada. Elas não podem escapar. Todos os que conseguem combater estão combatendo, incluindo adolescentes. As mulheres e crianças estão sendo mantidas escondidas." Tanques disparam por toda parte, disse ele.  Não foi possível averiguar os relatos independentemente, já que correspondentes estrangeiros estão sendo impedidos de entrar em Zawiyah e outras cidades próximas da capital sem uma escolta oficial.



Casas atingidas.

Os ataques aéreos no leste atingiram rebeldes em uma região entre as cidades costeiras de Ras Lanuf e Bin Jawad, a 550 quilômetros a leste de Trípoli e sedes de terminais petrolíferos.  Um dos ataques destruiu uma casa em uma área residencial de Ras Lanuf, abrindo um buraco enorme no térreo.

Mustafa Askat, trabalhador do setor de petróleo, disse que uma das bombas destruiu uma tubulação de água e que isso vai afetar o fornecimento de água à cidade.  "Temos um hospital lá dentro, temos pessoas doentes que precisam urgentemente de água", disse ele.  O exército rebelde --um grupo irregular composto principalmente de jovens voluntários e desertores das forças armadas-- fez avanços rápidos na primeira semana do levante, durante a qual controlou leste do país e desafiou o governo nos arredores de Trípoli.
Mas seu ímpeto parece estar paralisado, na medida em que as tropas de Kadafi reagiram usando aviões de guerra, tanques e armamentos pesados.  Rebeldes disseram que as forças do governo posicionaram seus tanques nos arredores de Bin Jawad, enquanto os rebeldes recuaram para Ras Lanuf. As duas cidades são separadas por cerca de 40 quilômetros e ficam ao lado de uma estratégica estrada costeira que margeia o Mediterrâneo e leva a Trípoli.  Não foi possível obter o número de baixas de qualquer um dos lados.

Prazo de 72 horas. Kadafi vem escarnecendo dos rebeldes, descrevendo-os ou como jovens drogados ou como terroristas apoiados pela Al Qaeda, e disse que prefere morrer na Líbia a se render.  O líder do grupo rebelde Conselho Nacional Líbio, disse na terça-feira que o conselho não perseguirá Kadafi se ele renunciar nas próximas 72 horas.

"Se ele partir da Líbia imediatamente, nas próximas 72 horas, e parar com o bombardeio, nós, como líbios, não o levaremos à justiça por seus crimes", disse Mustafa Abdel Jalil, um ex-ministro da Justiça, à televisão Al Jazeera, falando ao telefone desde Benghazi, reduto dos rebeldes no leste do país.

Um porta-voz rebelde disse mais cedo que o conselho rejeitou uma oferta de negociações feita pelo campo de Kadafi, mas um funcionário de um ministério líbio tachou os relatos sobre a oferta de "bobagem absoluta".  O chanceler britânico, William Hague, disse na segunda-feira que Londres está discutindo com seus aliados uma resolução para a imposição de uma zona de exclusão aérea e que as discussões abrangem uma "base legal apropriada". Uma fonte francesa disse que a França também está trabalhando sobre uma iniciativa desse tipo.

A Liga Árabe e vários Estados do Golfo também pediram uma zona de exclusão aérea. Trata-se de um apoio importante, em vista das desconfianças existentes no mundo muçulmano acerca das intenções ocidentais.  O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, disse que qualquer ação só será empreendida com apoio internacional. A Casa Branca disse que todas as opções estão sobre a mesa, incluindo a de armar os rebeldes.

A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, com poder de veto, disse que se opõe a uma intervenção militar estrangeira, e a China também demonstrou frieza em relação à proposta de uma zona de exclusão aérea.  "Acreditamos que a soberania da Líbia, sua integridade territorial e sua independência devem ser respeitadas", disse em Pequim uma porta-voz do Ministério do Exterior chinês.


Fonte: Estadao

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