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sábado, 5 de março de 2011

Forças de Kadhafi lutam por controle de cidade líbia próxima a Trípoli


O ditador líbio, Muammar Kadhafi, enviou mais tropas para tentar reassumir o controle da cidade ocidental de Zawiyah, a 50 km da capital, Trípoli, neste sábado (5), após se deparar com a resistência dos rebeldes. Segundo canais de televisão árabes, tanques dispararam contra edifícios residenciais.

Agências de notícias informam que a cidade está cercada pelas tropas do governo, e a Reuters cita um médico confirmando 30 mortos. Zawiyah é a região mais próxima de Trípoli a ser disputada, e sua defesa pode ser crucial para que o regime garanta o controle da capital.

"Agora, com toda a artilharia, tanques e veículos blindados, estamos vendo as batalhas e assassinatos que não vimos no Iraque. Considero genocídio total", disse uma testemunha que falou à televisão saudita 'Al Arabiya' em Zawiyah. "As batalhas entraram na cidade. Mais de 15 veículos blindados entraram duas horas atrás, juntamente com um tanque. Há disparos em todas as áreas e as mesquitas anunciaram 'jihad' [guerra santa] contra essas brigadas', disse o homem à 'Al Arabiya'.

Um médico contatado pela AFP também falou em genocídio. "É um verdadeiro massacre. A situação é catastrófica. Mataram muita gente. Mataram minha filha", disse, chorando.
A rede 'Al Jazeera' noticiou informações semelhantes sobre a luta em Zawiyah, a oeste da capital, e disse que os tanques tinham ateado fogo em casas.

À AFP, um morador deu testemundo semelhante. "Os tanques estão por toda a cidade e disparam contra as casas. Eu vi passar sete diante de minha casa. Os tiros de obuses não pararam durante todo o dia", afirmou.

Segundo a agência de notícias Reuters, o porta-voz da força rebelde em Zawiyah disse que as forças de Khadhafi haviam retomado controle amplo da cidade costeira do Mediterrâneo depois de lutas na sexta-feira. "Alguma coisa ruim vai acontecer hoje. Vai ser uma guerra", disse o porta-voz Youssef Shagan por telefone, de Zawiyah. "Há tanques ao redor de toda praça. Eles fecharam todas as estradas, estão usando tanques e armas pesadas para cobrir seus soldados. Queremos tomá-la de volta [Zawiyah] de qualquer maneira."

No leste da Líbia, rebeldes disseram que haviam ganho mais terreno em um impulso para o ocidente contra as forças de Kadhafi, tomando a cidade de Bin Jawad, a cerca de 525 km a leste de Trípoli.

No começo do dia, o conflito estourou novamente na região petrolífera de Ras Lanuf, a 660 km de Trípoli, quando rebeldes dispararam contra um helicóptero do exército, um dia depois que se relatou a captura da cidade pelos opositores, disseram testemunhas. Segundo a agência de notícias France Presse, pelo menos oito pessoas morreram e 21 ficaram feridas nos combates de sexta-feira em Ras Lanuf.

A insurreição de duas semanas contra quatro décadas de regime autocrático de Kadhafi promoveu rebeldes indisciplinados, mas dedicados, geralmente dominante no leste da Líbia, contra o governo no oeste. Mas os últimos confrontos têm sugerido que as linhas de frente estão longe de serem definidas e que podem mudar rapidamente.
O levante provocou a necessidade de ajuda humanitária na fronteira com a Tunísia, para onde dezenas de milhares de trabalhadores estrangeiros fugiram.

Líderes ocidentais pediram a saída de Kadhafi e estão considerando várias opções, inclusive a imposição de uma zona de fechamento aéreo, mas estão cautelosos em relação à utilização de sua força militar depois de as guerras no Afeganistão e no Iraque terem sido extremamente impopulares em seus países.

Conselho

O "Conselho Nacional", criado pela oposição líbia para derrubar o coronel Muammar Kadhafi e preparar uma transição política, terá sua primeira reunião formal neste sábado, em um lugar secreto, declarou à agência France Presse o porta-voz do movimento, Mustafah Gheriani. "É um tema de segurança. Kadhafi continua assassinando pessoas", declarou.
O ex-ministro da Justiça Mustafah Abdeljalil, uma das primeira personalidades do regime a passar à oposição, foi nomeado presidente do conselho, que tem 30 membros.
Também neste sábado, o filósofo francês Bernard-Henri Lévy se reuniu com membros do Conselho Nacional Independente. "Me reuni com os representantes do Conselho Nacional. Aqui estão acontecendo fatos extraordinários que ninguém havia previsto. Quis compreender por conta própria", explicou o filósofo, que desembarcou na Líbia há dois dias.

Força-tarefa

A Grã-Bretanha anunciou neste sábado (5) que espera enviar uma força-tarefa diplomática à Líbia em breve para fazer contato com os líderes da oposição e deixou de prontidão um batalhão de tropas para levar ajuda humanitária e esforços de retirada de pessoas se necessário, informou a agência de notícias Reuters.
Fontes do governo disseram à Reuters que uma equipe de especialistas, incluindo autoridades da chancelaria, viajariam a Benghazi, no leste do país, para ver o que as forças anti-Gaddafi estão necessitando.

A força-tarefa está sendo enviada em missão investigativa e para ver como a Grã-Bretanha pode ajudar na logística, disseram as fontes. Está acertado que os rebeldes não receberão armas, uma vez que há um embargo internacional de armas ao país.
Perguntado quando a equipe será enviada, uma fonte disse: 'Não estamos conversando sobre quando'. O Ministério das Relações Exteriores evitou fazer um comentário oficial.

O Ministério da Defesa afirmou que a Guarda Negra, terceiro batalhão do Regimento Real Escocês, está de prontidão para ir à Líbia e preparado para partir rapidamente, em até 24 horas, nos últimos dez dias.

Uma porta-voz afirmou que 200 soldados dariam assistência humanitária e não entrariam em combate ou interviriam militarmente de alguma forma.
'Não há a possibilidade de que eles sejam envolvidos em qualquer missão de combate ou ofensiva de solo', afirmou. 'Isso não tem nada a ver com a clara deterioração das coisas em solo na Líbia, ou qualquer aumento da crise da nossa parte.'

A Grã-Bretanha estendeu na sexta-feira um congelamento de ativos a mais 20 membros do grupo do líder líbio, Muammar Gaddafi, e travou cerca de 100 milhões de libras (163 milhões de dólares) em moeda líbia.
O congelamento de ativos foi imposto na semana passada e inicialmente aplicado apenas a Gaddafi e sua família imediata. Agora, ele já chegou a 26 pessoas.

Autoridades britânicas confiscaram um carregamento de 100 milhões de libras em moeda líbia em um navio que retornava às suas águas na quarta-feira, depois de ter sido impedido de atracar na capital da Líbia, Trípoli, devido a preocupações com a segurança na região.



Jornalistas estrangeiros estão sob forte pressão do governo líbio


Proibição de sair dos hotéis, a não ser para viagens organizadas, falta de informação e cortes de internet: os jornalistas estrangeiros enviados a Trípoli estão sob forte controle do poder líbio, que enfrenta há duas semanas uma revolta popular sem precedentes.
A tensão era palpável na capital líbia na sexta-feira, dia da grande oração e momento chave da mobilização dos opositores do regime de Muammar Kadhafi.
As portas do hotel Rixos, onde a maioria dos jornalistas estrangeiros está hospedada, foram fechadas. Os correspondentes não poderam sair, a não ser em um comboio organizado pelas autoridades, disse à AFP um jornalista estrangeiro por telefone.
Musa Ibrahim, um porta-voz do governo líbio, dirigiu uma forte advertência à imprensa estrangeira.

"Qualquer jornalista que sair às ruas sem autorização será preso. É um dia especial. Grupos terroristas querem provocar atos violentos e a presença de jornalistas agravará a situação", disse Ibrahim aos jornalistas ocidentais que foram contactados pela AFP.

No entanto, um jornalista da AFP conseguiu se deslocar à Praça Verde, no centro da capital, onde uma centena de partidários de Kadhafi manifestavam seu apoio ao "guia da revolução".
O jornalista foi descoberto por um grupo de cerca de 15 policiais, que o colocaram em um táxi, dando ordens ao condutor de levá-lo diretamente ao hotel.

Mais tarde, na mesma praça, ocorreram confrontos violentos entre os partidários de Kadhafi e seus opositores, segundo uma testemunha contactada pela AFP.
Ao mesmo tempo, mas em Tajura, um bairro popular do leste de Trípoli, uma centena de manifestantes anti-Kadhafi enfrentou as forças de ordem, segundo uma testemunha.
Escapar da vigilância das autoridades líbias já era difícil antes de sexta-feira, já que o governo controla os jornalistas desde sua chegada ao aeroporto.

Desde quinta-feira à noite, o acesso à internet foi bloqueado sem explicação nos dois hotéis de Trípoli que foram designados para abrigar a imprensa internacional.
"Não é culpa nossa, trata-se de uma intervenção externa", disse à AFP um funcionário do hotel Corinthia.

Desde o início da revolta, em 15 de fevereiro, no leste do país, as autoridades líbias denunciaram a cobertura por parte da imprensa estrangeira destes atos sangrentos, acusando-a de aumentar sua importância e estar contra o regime que controla a Líbia há quase 42 anos.

As autoridades também desmentem sistematicamente as operações militares que realizam no leste do país, embora a AFP tenha obtido diversos testemunhos destes fatos e inclusive presenciado confrontos.

Na quarta-feira, Ibrahim negou-se a dar declarações sobre um ataque armado dirigido pelas autoridades com o fim de retomar o controle do porto petroleiro de Brega. "Houve diversos rumores deste tipo sobre ataques de nossas forças. Todos foram falsos", disse o porta-voz do governo.

No entanto, Saif al-Islam, um dos filhos de Kadhafi, declarou na quinta-feira à noite na rede de televisão Sky News que um ataque aéreo havia ocorrido efetivamente, mas que estava "destinado a amedrontar" os opositores.
O governo líbio organizou na quinta-feira um comboio para a imprensa no noroeste do país, onde os fiéis ao regime parecem ter tomado o poder, mas os jornalistas estavam proibidos de se aproximar da população local.




Fonte: G1

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