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terça-feira, 29 de março de 2011

Taiwan pede armas aos EUA contra possível ataque chinês


Taipé - O presidente do Taiwan, Ma Ying-Jeou, e legisladores do país pediram nesta terça-feira aos Estados Unidos que forneçam equipamentos bélicos, incluindo aviões F-16 C/D e submarinos, para se defender de um possível ataque chinês, durante encontros com um ex-funcionário americano.


"Assim o povo taiwanês se sentirá seguro e poderemos continuar os contatos com a China", disse Ma ao ex-subsecretário de Estado dos EUA Richard Armitage, que serviu no Governo de George W. Bush e está de visita à ilha até quarta-feira.

Ma agradeceu aos presidentes George W. Bush e Barack Obama por terem aprovado a venda de equipamentos militares ao Taiwan e afirmou que sua política em relação à China é manter a atual situação.

"Mais de 80% da população quer conservar a atual situação com a China", disse o presidente taiwanês.

Com relação ao ritmo do desenvolvimento dos contatos entre China e Taiwan, Ma assinalou que "não pensa em acelerá-los ou desacelerá-los".

Em seu encontro com legisladores, o ex-funcionário americano também escutou pedidos de maior compromisso militar americano com a segurança da ilha.

Armitage também se reuniu com a presidente do Conselho de Assuntos Chinês, Lai Shi-Yuan, e com a presidente do opositor Partido Democrata Progressista, Tsai Ing-Wen, possível candidata presidencial de seu partido para as eleições de 2012.

Tsai disse ao ex-subsecretário de Estado que "Taiwan e China buscariam interesses comuns para manter a estabilidade regional".

A dirigente independentista acrescentou que, embora haja muitas diferenças entre Taipé e Pequim, Taiwan sempre adotará medidas responsáveis para manter a paz e a estabilidade na região, e ressaltou que agora seu partido está bem preparado para governar.

Armitage chegou a Taiwan com uma delegação na qual se encontra o subsecretário adjunto de Assuntos do Pacífico e Leste da Ásia Randy Shriver.

A China não renunciou ao uso da força para evitar a independência formal de Taiwan.

As relações entre Pequim e Taipé melhoraram desde a chegada ao poder do presidente Ma, em maio de 2008, que adotou uma política de aproximação econômica e civil com a China, mas as diferenças políticas sobre a soberania ainda se mantêm.

fonte: Exame.com

quinta-feira, 17 de março de 2011

Kadafi: Cinco mitos sobre um ditador



Como cantava Frank Sinatra em My Way, Muamar Kadafi também sempre fez as coisas do seu jeito. Quando os protestos públicos, ao estilo de Egito e Tunísia, não conseguiram desalojar o líder líbio, eclodiu uma rebelião em escala total que se chocou contra a brutalidade implacável tão familiar aos velhos observadores de Kadafi. A situação da Líbia, que viviam um impasse entre governistas e rebeldes, parece ter se definido em favor do ditador. No momento em que a comunidade internacional aprovava medidas punitivas no Conselho de Segurança da ONU e se perguntava quando e como Kadafi poderá cair, trataremos de derrubar alguns equívocos sobre o caprichoso líder.

1) Kadafi é louco. Dado: Kadafi parece um ditador demente. Ataques homicidas contra seu próprio povo? Confere. Ideologia maluca? Tente ler as digressões incoerentes do seu Livro Verde, seu manifesto dos anos 70. Declarações públicas bizarras? Ouça sua arenga de 90 minutos contra o mundo diante da Assembleia Geral da ONU, em 2009. Acrescente à mistura sua força de segurança só de mulheres, a Guarda Amazônica, e a tenda beduína que ele monta durante suas viagens. As evidências sugerem uma pessoa maluca.

No entanto, Kadafi não conseguiria se manter no poder por tanto tempo num país tão dividido como a Líbia se não fosse um operador político astuto. Ele se adaptou ao longo dos anos, ajustando sua mensagem para agradar eleitorados diferentes com pan-arabismo, pan-africanismo, antiocidentalismo e uma tentativa idiossincrática de socialismo. Ele usou todos os meios a sua disposição para alcançar seu único objetivo: permanecer no poder.

A riqueza do petróleo da Líbia capacita Kadafi a comprar lealdades. Quando a lealdade não pode ser comprada, ele usa a intimidação e a violência para extraí-la - por exemplo, na repressão brutal dos estudantes islâmicos no leste da Líbia nos anos 90. Ele removeu metodicamente seus inimigos, mantendo os militares fracos, as tribos divididas e os radicais islâmicos temendo pelas próprias vidas. Ele manteve seus inimigos se digladiando em vez de trabalharem juntos para derrubá-lo. Ele chegou a manipular seus próprios filhos, atiçando suas rivalidades, para impedir que um deles se tornasse poderoso demais.

Até o mês passado, Kadafi conseguiu controlar tudo e todos em seu país, enquanto alegava não ter nenhum cargo oficial. O argumento é maluco, mas o homem que o diz tem sido bem-sucedido demais para ser subestimado e considerado um louco.

2) Kadafi lutará até a morte. Depois que o presidente Ronald Reagan chamou Kadafi de "cachorro louco do Oriente Médio", muitos acharam que o ditador morreria antes de deixar o poder. Embora não se deva esperar uma rendição fácil do homem que prometeu enfrentar a rebelião líbia "até a última gota de sangue", o passado de Kadafi sugere que ele é capaz de recuar do precipício.

Após os EUA invadirem o Iraque, em 2003, Kadafi temeu que seu regime pudesse ser o próximo. Ele desistiu então de seu programa de armas nucleares e pagou indenização às famílias das vítimas do atentado em Lockerbie em troca de um fim das sanções comerciais americanas. Se lhe deram terreno antes, por que não agora? Reportagens na mídia árabe sugerem que ele não descartou a possibilidade de deixar o poder em troca de imunidade a perseguições e asilo no exterior para ele e sua família. Uma aposentadoria pacata em Caracas ou Harare não deve ser descartada se os rebeldes ganharem terreno.

3) Mercenários estrangeiros mantêm Kadafi no poder. A coisa não é tão simples e direta. Combatentes dos vizinhos Chade, Níger e também de Síria, Sérvia e Ucrânia acorreram para Kadafi em sua hora de necessidade, mas o apoio central do líder líbio vem de clientelas domésticas, que incluem unidades de forças especiais comandadas por seus filhos, uma segurança interna formidável e a fidelidade de seu próprio grupo tribal, Gaddadfa. Muitos "estrangeiros" da Líbia já vivem há anos no país. Eles vieram do Chade, Mali e Níger ainda nos anos 70 para ingressar na Legião Islâmica de Kadafi.

4) Uma zona de exclusão aérea acabará com Kadafi. É muito improvável. Aliás, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, e vários generais de peso vacilaram ante o custo e os riscos de destruir as defesas aéreas líbias. De qualquer maneira, os ataques mais significativos do regime contra os rebeldes não têm sido conduzidos por aviões, mas por forças terrestres e helicópteros capazes de se esquivar de uma zona de exclusão aérea. Há também uma realidade diplomática incômoda: não seria fácil uma intervenção obter respaldo na Otan, onde a Turquia é contrária - embora tenha sido aprovada na ONU.

E, mesmo que uma zona de exclusão aérea pudesse derrubar Kadafi, por que o presidente dos EUA, Barack Obama, desejaria estabelecer uma? Os EUA estão cautelosos, temendo uma nova intervenção confusa em um país muçulmano. A menos que Kadafi comece a usar aviões para causar uma matança em massa, uma zona de exclusão aérea pode, quando muito, aplainar o campo de jogo para que os dois lados da guerra civil na Líbia possam lutar de maneira mais igual - e não é Kadafi que está por baixo nessa batalha.

5) Remova Kadafi e os problemas da Líbia serão resolvidos. O regime de Kadafi teve um benefício: manteve unido um país dividido. Sua saída deixará um vácuo de poder. Kadafi fez um serviço tão completo para eliminar sua oposição que não há nada para substituí-lo. Os rebeldes são unidos por pouco mais que seu ódio ao ditador.

Secularistas, monarquistas e até ex-jihadistas batalham ombro a ombro nessa luta. As lealdades tribais complicam ainda mais os esforços para forjar uma frente comum. Todas as facções pedem uma ação internacional para destituir Kadafi, mas estão divididas sobre a forma que essa ação deve tomar.

Só depois que o Conselho Nacional Interino foi estabelecido na cidade de Benghazi tomada pelos rebeldes, em 26 de fevereiro, a oposição a Kadafi começou a se aglutinar. No entanto, isto foi no começo. Durante quase uma semana, o ex-ministro da Justiça Mustafa Abdel-Jalil disputou a liderança do conselho com o advogado Abdel-Hafidh Ghoga.

Jalil só foi confirmado no comando no dia 5. Mesmo se os rebeldes da Líbia conseguirem alcançar a vitória no campo de batalha, a tarefa de construir um movimento nacional numa sociedade dividida serão ainda mais difíceis.



Por: Richard Downie
Fonte: The Washington Post

IMPERIALISMO FAMINTO: Potências se preparam para intervenção militar na Líbia


O governo britânico ordenou à cúpula militar do país a finalização do plano para impor uma zona de exclusão aérea na Líbia, informou o jornal britânico The Guardian. A Força Aérea Britânica (RAF, na sigla em inglês) está de prontidão. Na noite de quinta-feira, 17, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que autoriza o uso de "todos os meios necessários" para proteger os civis das tropas leais ao ditador Muamar Kadafi.

Fontes diplomáticas francesas disseram que a ação militar poderia ser iniciada em poucas horas e incluiria a participação da França, Grã-Bretanha, e possivelmente os EUA e uma ou mais nações árabes.


Os caças Tornados da RAF devem ser os primeiros a atacar a defesa antiaérea de Kadafi. Os aviões, baseados na Escócia e em Norfolk, cidade no leste da Inglaterra, utilizariam bases no sul da França ou no Chipre. O Canadá ofereceu seis caças CF-18 para auxiliar na imposição da zona de exclusão aérea.

A Itália, por sua vez, disponibilizou suas bases militares para garantir o cumprimento da resolução, segundo a Reuters. A base aérea de Sigonella, na Sicília, que fornece apoio logístico à Sexta Frota do Estados Unidos, é uma das bases da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mais próximas à Líbia e poderá ser usada na ação.

"É um desenvolvimento positivo", afirmou uma fonte italiana após  a sessão do Conselho de Segurança. Questionado sobre se a Itália iria oferecer suas bases para a aplicação da resolução da ONU, a fonte disse: "Sim, dissemos que estamos prontos para fazê-lo".

O Egito começou a fornecer armas de pequeno porte, como rifles e munição, para rebeldes no leste da Líbia, com o aval dos Estados Unidos, segundo o The Wall Street Journal. É o primeiro esforço conhecido de um governo estrangeiro para armar a oposição a Kadafi.



EUA cogitam treinar rebeldes

Na avaliação de alguns países, mesmo a zona de exclusão aérea não será suficiente. A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, disse antes da votação que talvez sejam necessárias medidas ainda mais restritivas para conter o regime líbio. Os EUA e seus aliados poderiam também enviar militares para assessorar e treinar os rebeldes, disse um oficial americano.

Demonstrando a importância da questão para a França, o próprio chanceler Alain Juppé compareceu ao conselho em Nova York e disse que a "obrigação dos franceses não é dar lições, mas ajudar as pessoas a decidir seu futuro. A situação na Líbia é alarmante. Não podemos abandonar a população civil diante da repressão. Temos pouco tempo. É uma questão de dias. Ou mesmo de horas. Cada hora que passa, aumenta o peso sobre os nossos ombros. Não podemos atuar tardiamente".


EUA convoca França e Reino Unido para ação na Líbia

O presidente Barack Obama convocou nesta quinta-feira, 17, os líderes de França e Grã-Bretanha para coordenar a estratégia de intervenção na Líbia, após a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que autorizou o uso da força contra as tropas do ditador Muamar Kadafi, informou a Casa Branca.

A Alemanha absteve-se na votação na ONU que definiu a resolução de usar a força contra Kadafi. Segundo o ministro alemão de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, uma intervenção militar contra a Líbia implicará "riscos e perigos consideráveis", e por isso, nenhum soldado da Alemanha participará da operação.



ONU autoriza intervenção na Líbia

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nesta quinta-feira, 17, a imposição de uma zona de exclusão aérea na Líbia e a adoção de todas as medidas necessárias para impedir o massacre de civis por tropas do ditador Muamar Kadafi. A medida recebeu dez votos favoráveis (EUA, Reino Unido, França, Líbiano, Bósnia e Herzegovina, Colômbia, África do Sul, Nigéria, Gabão e Portugal) e cinco abstenções: Brasil, China, Rússia, Índia e Alemanha. Tropas americanas, francesas, britânicas e de dois países árabes devem participar da ação militar.

A decisão foi tomada um mês depois do início dos protestos pela derrubada do ditador, e uma semana após Kadafi ganhar terreno, em uma ofensiva que retomou diversas cidades do oeste da Líbia das mãos da oposição e chegou às portas de Benghazi, a capital rebelde.

As negociações estiveram sob o comando da França, do Reino Unido e do Líbano. Os Estados Unidos se envolveram mais intensivamente nos últimos dias depois que a Liga Árabe e a União Africana se posicionaram a favor da zona de exclusão aérea. O desafio, ao longo dos últimos dois dias, foi convencer a China e a Rússia a não vetarem a resolução.

A resolução também congelou os bens de mais sete indivíduos e cinco companhias, que se juntam aos membros do regime de Kadafi e seus familiares que já haviam sido punidos na resolução aprovada em fevereiro. Também reforçaram o embargo de armas. Para completar, o texto pede um cessar-fogo imediato.



Ação imediata 

Mais cedo, a França indicou que poderia participar de uma ação militar tão logo a ONU desse o sinal verde. "A partir do momento em que a resolução for aprovada, ações militares poderão começar nas horas seguintes", disse uma fonte diplomática francesa à AFP. "Ataques aéreos poderão começar já neste entardecer, ou amanhã, sexta-feira".

O ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, sinalizou que o país deve liberar a base na Sigonella na Sicília em uma eventual operação. "Não vamos nos esquivar de nossos deveres, ainda que defendamos a moderação", disse à Ansa.



'Vamos responder. Faremos de sua vida um inferno', ameaça Kadafi

Minutos depois de a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovar uma intervenção internacional na Líbia, o ditador Muamar Kadafi disse que a decisão do órgão é "um ato flagrante de colonização" ilegal.

"Isso é loucura, insanidade, arrogância. Se o mundo enlouquecer, enlouqueceremos junto. Vamos responder. Faremos de sua vida um inferno, porque estão fazendo isso da nossa. Eles nunca terão paz", disse o ditador ao canal português RTP, citado pelo jornal britânico The Guardian.
Mais cedo, o ditador, que está há 40 anos no poder, já havia dito que suas forças estavam prontas para atacar Benghazi, principal reduto rebelde. "Está decidido. Estamos chegando. Não teremos misericórdia".

O Ministério de Defesa da Líbia também havia ameaçado retaliar qualquer intervenção internacional. "Qualquer operação militar contra a Líbia vai expor todo o tráfego aéreo e marítimo no Mediterrâneo ao perigo. E qualquer tráfego civil ou militar será alvo de uma contraofensiva líbia. A bacia do Mediterrâneo será exposta a um perigo grave, não apenas no curto prazo, como também no longo prazo", disseram as autoridades.

A resolução que aprova a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia passou nesta quinta-feira, 17, pelo Conselho de Segurança da ONU por dez votos e favor e cinco abstenções. Os países que se abstiveram foram Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha. Votaram a favor França, Reino Unido, Líbano - os três principais apoiadores da medida -, EUA, Gabão, Nigéria, Colômbia, África do Sul, Portugal e Bósnia.

A resolução permite que sejam tomadas "todas as medidas necessárias" para "proteger civis e áreas habitadas por civis que estão sob ameaça de ataque (na Líbia), incluindo Benghazi, embora uma força de ocupação esteja excluída". A cidade citada no texto é o principal reduto dos opositores e a segunda maior do país.

A zona de exclusão aérea havia sido pedida pelos rebeldes líbios, que lutam para derrubar Kadafi há um mês. Eles se levantaram contra o coronel inspirados nas revoltas que derrubaram os regimes ditatoriais da Tunísia e do Egito no início do ano. O coronel tem usado aviões para bombardear os insurgentes e a imposição de uma zona de exclusão aérea os favoreceria.



Intervenção pode gerar mais danos do que benefícios, diz Brasil na ONU

A representação brasileira nas Nações Unidas se absteve na votação que aprovou uma intervenção militar na guerra civil Líbia. Após a resolução passar na votação do Conselho de Segurança, a embaixadora brasileira Maria Luiza Viotti atribuiu a posição do país ao texto da resolução.

"O problema está no texto da resolução. As medidas adotadas podem gerar mais danos do que benefícios. Mas não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio". Além disso, segundo a representante brasileira junto à ONU, os movimentos no mundo árabe têm crescido internamente, e uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países.

A abstenção brasileira ocorre às vésperas da visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, neste fim de semana. O governo brasileiro há anos tenta conseguir apoio para a inclusão do país entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Na votação de ontem, a posição da administração brasileira foi contrária aos interesses dos americanos.

A votação dividiu o Conselho de Segurança. Nem mesmo os europeus estavam unidos. A Alemanha também optou pela abstenção. Além de alemães, brasileiros, russos e chineses, a Índia também não apoiou a nova resolução. Na votação anterior, em fevereiro, quando aprovaram que Kadafi seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional, houve unanimidade.

Na avaliação de alguns países, mesmo a zona de exclusão aérea não será suficiente. A embaixadora dos EUA junto à ONU, Susan Rice, disse antes da votação que talvez sejam necessárias medidas ainda mais restritivas para conter o regime líbio. Franceses e libaneses debatiam o estabelecimento de uma zona de exclusão terrestre.

Leia a íntegra da declaração da embaixadora


“Senhor Presidente,

O Brasil está profundamente preocupado com a deterioração da situação na Líbia. Apoiamos as fortes mensagens da Resolução 1970 (2011), adotada por consenso por este Conselho. O Governo do Brasil condenou publicamente o uso da violência pelas autoridades líbias contra manifestantes desarmados e exorta-as a respeitar e proteger a liberdade de expressão dos manifestantes e a procurar uma solução para a crise por meio de diálogo significativo.


Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitarem-se os seus direitos. O Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança, maior participação política, oportunidades econômicas e justiça social.


Condenamos o desrespeito das autoridades líbias para com suas obrigações à luz do direito humanitário internacional e dos direitos humanos. Levamos em conta também o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que dêem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea. Somos sensíveis a esse chamado, entendemos e compartilhamos suas preocupações.


Do nosso ponto de vista, o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução levará à realização do nosso objetivo comum – o fim imediato da violência e a proteção de civis.


Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos.


Muitos analistas ponderados notaram que importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local. Estamos também preocupados com a possibilidade de que o emprego de força militar conforme determinado pelo OP 4 desta resolução hoje aprovada possa alterar tal narrativa de maneiras que poderão ter sérias repercussões para a situação na Líbia e além.


A proteção de civis, a garantia de uma solução duradoura e o atendimento das legítimas demandas do povo líbio exigem diplomacia e diálogo. Apoiamos os esforços em curso a esse respeito pelo Enviado Especial do Secretário-Geral e pela União Africana.


Nós também saudamos a inclusão, na presente resolução, de parágrafos operativos que exigem um imediato cessar-fogo e o fim à violência e a todos os ataques a civis e que sublinham a necessidade de intensificarem-se esforços que levem às reformas políticas necessárias para uma solução pacífica e sustentável. Esperamos que tais esforços continuem e tenham sucesso.
Obrigada.”


Fonte: Estadao

OS 20 ANOS DO MERCOSUL


PROCESSO DE INTEGRAÇÃO É SATISFATÓRIO, DIZ ESPECIALISTA
“O Tratado de Assunção, que deu origem ao Mercosul, completa duas décadas neste mês de março. Durante o período, o bloco ainda não conseguiu realizar o pleno processo de integração que visa instituir um mercado comum, que compreenda a livre circulação de mercadorias, de capitais e de trabalhadores, bem como a liberdade de estabelecimento e de concorrência entre os países que [atualmente] o compõem –Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Para Eduardo Manuel Val, professor adjunto de Direito das Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense, vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da mesma Casa, e coordenador do blog “Observatório do Mercosul”, a integração deve ser feita respeitando os mecanismos de flexibilidade, equilíbrio e gradualidade, presentes no Tratado de Assunção.

Em janeiro, por exemplo, a Argentina lançou mão desses mecanismos ao ampliar de 400 para 600 itens a lista de produtos submetidos à licença prévia de aprovação –segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), a medida afetará 50% das exportações do setor brasileiro.

"Esses três princípios -flexibilidade, equilíbrio e gradualidade- já foram aplicados anteriormente até mesmo pelo Brasil, Uruguai e Paraguai. Se tivesse um sistema mais rígido, como na época do Tratado de Montevidéu, de 1960, ou como o do Tratado de 1980 para ALADI [Associação Latino-Americana de Integração], todos muito fixos, correríamos o risco de frustrar expectativas de integração", explica.

Apesar das dificuldades enfrentadas para atingir os objetivos de liberalização do comércio de serviços e livre circulação de mão de obra e coordenação de políticas macroeconômicas regionais, o pesquisador é otimista quanto ao processo de integração do Mercosul, e lembra que a União Européia, com 60 anos, ainda discute pontos relativos à união dos países do bloco.

Val ressalta que o Mercosul não deve ser analisado hoje apenas do ponto de vista econômico, mas sim político, entendendo que esses vinte anos serviram para superar as diferenças culturais e políticas alimentadas no período militar, e para que o Brasil se transformasse em líder respeitado regionalmente.

O processo de integração deverá se aprofundar com a criação de agenda comum de políticas públicas regionais e com o fortalecimento do Parlamento do Mercosul, defende. Nos últimos oito anos, o comércio brasileiro com os países do Mercosul saltou de US$ 8 bilhões para US$ 35 bilhões –só as exportações passaram de US$ 2,9 bilhões para US$ 20,1.

-O bloco tem sido benéfico aos países do cone sul?

Absolutamente, não somente do ponto de vista econômico, com desenvolvimento substantivo, e aí as estatísticas são claras no crescimento do comércio, como do ponto de vista político. A gente não pode cair no erro de achar que o processo de integração é só econômico. Por trás da economia, temos divisões políticas e os países do Cone Sul têm constituído bloco geopolítico que hoje possui visibilidade no contexto internacional.

Como resolver as assimetrias entre os países?

Não acho que tenham de ser resolvidas. As assimetrias fazem parte de qualquer processo de integração. Na Europa, por exemplo, entre Luxemburgo, Alemanha e Itália existem enormes assimetrias. A questão não é eliminá-las, mas sim complementar as estruturas econômicas, fazer um sistema de articulação de políticas públicas em nível regional e, a partir daí, multiplicar os benefícios das diferenças.

As assimetrias não são, necessariamente, elementos negativos e podem potencializar a diversidade do bloco. É claro que isso deve ser construído a partir de alguns princípios que estão presentes no Tratado de Assunção, que deu origem ao Mercosul, como os de flexibilidade, equilíbrio e gradualidade. Então, gradualmente, de forma flexível e equilibrada, pode-se construir relação de compatibilidade e ir corrigindo as assimetrias que sejam negativas.

-A partir dessa afirmação, é possível dizer que é legítimo a Argentina não ter respeitado a alguns princípios do tratado com relação à entrada de produtos brasileiros no seu país, alegando proteger sua indústria em alguns setores?

Esses três princípios que eu te falei –de gradualidade, equilíbrio e flexibilidade– têm sido usados pela Argentina, mas já foram aplicados anteriormente até mesmo pelo Brasil, Uruguai e Paraguai.

Os Estados estão submetidos a contexto internacional muito variável –a exemplo da situação do petróleo subindo a mais de U$ 120 o barril. Logo, você tem situações conjunturais que exigem flexibilidade. Se você tivesse um sistema mais rígido, como na época do Tratado de Montevidéu, de 1960, ou como o Tratado de 1980 para ALADI [Associação Latino-Americana de Integração], todos muito fixos, correria o risco de frustrar expectativas de integração.

O princípio de flexibilidade te permite ter possibilidades de lidar em contextos que são conjunturalmente desfavoráveis, mas não vão contra as metas de integração.

-Existe tendência de integração energética do Bloco? Se sim, será fácil de ser aplicada?

Claro que existe tendência, e isso deverá ser objeto de discussões e negociações dentro do Mercosul para articular as políticas públicas regionais. Hoje, a matriz energética de qualquer bloco é elemento central de sua política. No mundo, ter matriz energética forte e diversificada, como temos no Mercosul, é absolutamente estratégico. Temos energia elétrica, matrizes petrolíferas, gás, fora as demais formas alternativas.

-Daria para dizer qual é o papel de cada país que compõe hoje o Bloco? Daí sim, seria importante a entrada da Venezuela por causa do petróleo?

Hoje, é comum uma agenda de políticas em cada país separada do Mercosul. Deveria ser o contrário, as agendas deveriam ser integradas. Com isso, se estamos desenvolvendo agora projetos de infraestrutura elétrica, por exemplo, temos que ver como isso pode se articular com o vizinho. Temos exemplo disso em projetos que estão sendo construídos na tríplice fronteira –Brasil, Paraguai e Argentina– que podem ser objeto de financiamento e aproveitamento comum.

A política energética nacional não pode ser dissociada de política energética regional. Isso é fundamental. Ainda estamos com visão muito restrita de trabalhar essa questão apenas em nível nacional. Devemos aproveitar organismos financeiros como o BNDES e o Banco Interamericano de Desenvolvimento para articular financiamentos de empreendimentos regionais de integração na área energética.

Será facilmente aplicável [a integração energética]? Em nenhum bloco é fácil, tem a ver com o convencimento político. Mas, fundamentalmente, o Brasil, principalmente a partir do governo Lula e agora com a presidenta Dilma, tem apostado no regional e sido um incentivador muito forte da integração [inclusive com a Venezuela].
 

O QUE TEM IMPEDIDO O MERCOSUL DE AVANÇAR MAIS RAPIDAMENTE?

Primeiro, há uma questão cultural. No Brasil, temos ainda setores, tanto da academia, quanto da administração pública, que fazem opção no sentido clássico, de que o Brasil tem que negociar só com a União Européia e com os Estados Unidos. Isso é um lema político. O Brasil tem que desenvolver sua liderança a partir de articulação com o terceiro mundo, basicamente a partir da sua região.

Por outro lado, devemos lembrar que tiveram momentos políticos de integração [do Mercosul], desde 1991, em que setores de cada país foram muito reacionários a essa possibilidade de integração regional, não apostando no Bloco.

-E quais seriam esses setores?

São os mais conservadores e imediatistas, tanto do ponto de vista empresarial, quanto do ponto de vista de formuladores de políticas públicas, grupos que apostam nos benefícios imediatos do acesso aos mercados americano e europeu. Mas a realidade tem mostrado que o Brasil tem sido muito bem sucedido na sua política de expansão econômica justamente pelo contrário, por apostar de forma inteligente na diversidade de mercados.

Hoje, colocamos nossos produtos tanto na Ásia, quanto África e América Latina, ficando menos presos aos mercados europeu e norte-americano. E na hora que esses mercados entram em crise, como atualmente, nos beneficiamos disso, não somos tão fragilizados pelas crises sistêmicas deles.

Por outro lado, há certas falsas antinomias absurdas e simplistas de achar que nosso inimigo é nosso vizinho, quando na realidade estamos competindo entre as dez economias do mundo. Hoje nossos rivais são os outros BRICs.

-Em entrevista concedida ao jornal argentino “Página 12”, a economista Diana Tussie, diretora do “Programa de Instituições Econômicas Internacionais de FLACSO” e da “Rede Latino-Americana de Comércio”, afirmou que a região mudou nos últimos anos no sentido das exportações interregionais tenderem a ser industriais em contraste com as exportações feitas no mundo, que são basicamente de commodities. É nesse sentido que devemos aproveitar os acordos regionais, ou seja, por ter espaço para exportar produtos com tecnologia agregada?

Até desejaria isso. Mas se observarmos os indicadores publicados em março sobre o início deste ano, veremos que o Brasil, por exemplo, tem se destacado por um superávit muito forte, mas por exportação de commodities. Nós estamos aprofundando essa linha de só exportar commodities, seja em forma de matéria-prima pura, faturada ou manufaturada.

Temos que insistir mais em exportar nossos produtos industrializados em políticas regionais. No lugar de comprar da China produtos industrializados, temos que ver na região nossa capacidade de produzi-los.

-A mesma pesquisadora, Diana Tussie, afirmou que o Brasil é uma potência global, mas não tem liderança em nível regional e que, na América do Sul, não tem seguidores e nem uma política regionalista definida. Concorda?

O que ela está falando é que o Brasil dá, aparentemente, mais relevância ao seu papel como líder global e foca menos seus esforços no espaço regional. Mas isso é visão já ultrapassada, basta observar a política externa dos dois períodos do governo Lula, e como isso se torna mais claro em Dilma, na escolha do primeiro país que visita como presidenta, Argentina, principal parceiro regional.

Acho que ela [a economista Diana Tussie] não prestou atenção nos últimos governos, nem mesmo em FHC, que ao seu modo também fez opção pelo Mercosul. Para poder ser forte no espaço global, o Brasil tem adotado posição de resgate de sua liderança regional.

Se, hoje, o presidente Lula fosse candidato na Argentina, ganharia com mais de 50% -isso foi publicado por diversos meios de comunicação na Argentina, através de enquetes, por consulta popular (*). O Brasil é, hoje, modelo de sucesso para a Argentina e para o resto do Mercosul. Tanto como estado político, de consolidação democrática, como de modelo econômico e de desenvolvimento.

(*) Pesquisa realizada pela consultoria Carlos Fara e Associados na Argentina, em 2009, apontou que, se Lula fosse argentino, seria eleito presidente com 52% dos votos.

-Em edição do jornal paraguaio “ABC Color”, de 1º de março, um especialista afirmou que o Paraguai estaria condenado ao Mercosul. Concorda com essa afirmação?

A palavra 'condenado' não tem sentido pejorativo. Essa afirmação me lembra à época do Tratado de Assunção, em março de 1991. Quando o chanceler do Uruguai foi chamado ao parlamento para defender a entrada do seu país no bloco, não usou exatamente essa expressão 'condenado', mas foi algo semelhante.

Mais de 50% das economias de Paraguai e Uruguai estão atreladas às economias de Brasil e Argentina. Então, de fato, são dependentes, até politicamente. Quando houve a tentativa de golpe, o Paraguai foi à presença dos embaixadores brasileiro e argentino, que colocaram limites à situação –o Mercosul tem um protocolo, chamado Ushuaia, que exige que, para um país entrar e permanecer no bloco, tem que aceitar se desenvolver num regime democrático.

-O que tornaria o Mercosul viável? Definir o papel de cada país para o desenvolvimento do cone Sul seria uma estratégia?

Antes de tudo, é importante apostar de forma clara no aumento da densidade institucional do Mercosul. Já temos no bloco o chamado TPR, “Tribunal Arbitral Permanente de Revisão” que precisa ser fortalecido. Há diversos ministros de cortes supremas do Mercosul pedindo, também, avanços no desenvolvimento dos tribunais regionais.

Mas ainda é necessário fazer um tribunal de justiça forte, de poder judiciário regional, seguindo modelos como da Europa, do pacto Andino, criado pelo Tratado de Cartagena, e trabalhar com a ideia da supranacionalidade. Hoje, não se inicia uma política pública na Alemanha sem levar em consideração o impacto regional. E nós, infelizmente, não consideramos que já existe o direito da integração funcionando para o Mercosul com metas a atingir.

-Por isso, não é natural pensar que duas décadas é muito tempo para integração dos países do bloco não ter dado certo? O Mercosul tem sido um fracasso?

Para saber se é ou não um fracasso, temos que aferi-lo a outros modelos. Vamos pegar o mais bem sucedido, que é o da União Européia. Eles vão para 60 anos de história com muitos pontos em discussão. O bloco europeu teve momentos de muitas dificuldades em que esse processo ficou totalmente parado, como na década de 1960. Então, 20 anos é pouco tempo para dizer que há fracasso.

A região [da América Latina] se viu afetada por uma série de problemas de caráter econômico, e não podemos esquecer que quando o Tratado de Assunção nasceu, em 1991, o processo democrático estava caminhando nos nossos países.

É claro que poderíamos ter avançado muito mais. Mas, hoje, o bloco tem apelo fortíssimo em termos políticos, ajudando a consolidar Unasul [União das Nações Sul-Americanas], e temos uma região mais engajada politicamente, pela primeira vez na história.

Acho que existe interesse em mostrar como fracasso uma política de integração que é muito bem sucedida se analisarmos o contexto em que ela teve que se desenvolver. Esses vinte anos têm servido para que o Brasil se transformasse em um líder regional, absolutamente respeitado em toda a região, e para que muitas das diferenças políticas tradicionais de confrontos, sobretudo alimentadas no período militar, fossem superadas.

-O Mercosul corresponde a 95% do fluxo comercial na América do Sul hoje. O Bloco está ganhando mais importância do que os acordos comerciais feitos unilateralmente com os Estados Unidos?

Não sei se os números são esses, mas não há dúvidas de que são importantes e substantivos. Talvez os dois países que mais apostaram em ter acordos bilaterais com os Estados Unidos foram o Chile e a Colômbia.

O Mercosul hoje tem política de negociação com a Índia, Israel, Palestina, África do Sul. É um player internacional, e essa possibilidade de não estar submetido a um único mercado ou câmbio dá liberdades e poder de barganha que não tínhamos antes.

-É muito difícil os quatro países do Mercosul entrarem num consenso para poder viabilizar toda a proposta do tratado. Nesse sentido, qual seria o impacto de novos países entrando no bloco? É melhor se conseguir uma estabilização, primeiro, para ir aceitando os outros? Aproveitando, o que pensa sobre a entrada da Venezuela?

É claro que quando você trabalha com políticas públicas em sentido comum, atingir o consenso é mais difícil quanto maior o número de Estados. Mas também, ao mesmo tempo, a entrada de novos Estados que tenham identidade com o projeto enriquece o Mercosul.

O bloco tem crescido não só pela adesão, que é uma fórmula jurídica de entrada no MERCOSUL muito específica que está prevista no Tratado de Assunção, mas também através de parcerias, a exemplo das realizadas com Chile e Bolívia, que têm tratados de livre comércio com o Mercosul. Ou seja, estamos crescendo unindo parceiros, seja através da entrada direta, seja através de tratados.

A entrada da Venezuela tem sido discutida não da perspectiva econômica, porque do ponto de vista da integração energética ela é importante -o Brasil tem hoje um projeto comum de refinaria no Nordeste com esse país. O grande problema tem a ver com o tratado de Ushuaia, que é o de aferir o grau de qualidade da democracia do país. Uma questão subjetiva, pois se você observar, a maioria dos países árabes, não as monarquias absolutas, mas a Tunísia, o Egito e o Marrocos, por exemplo, são estados constitucionais. Agora, são democracias? Meramente formais? São democracias participativas? Não. De repente todo o mundo descobriu que só tinham ditadores e autocratas naqueles países.

Temos aí um elemento pedagógico. A forma como caminha o Mercosul, como bloco democrático, vai permitir que os países que se integrem ao Mercosul também aumentem sua densidade democrática e se beneficiem de uma cultura democrática. O jogo da integração exige desenvolver competências e estabilidades democráticas, o próprio conceito de bloco já é contrário a qualquer decisão unilateral.”

Por: Lilian Milena
Fonte: Agência Dinheiro Vivo

DITADURA NOS EUA: TORTURA DO SOLDADO BRADLEY MANNING, SUSPEITO DE COLABORAR COM O “WIKILEAKS”



PORTA-VOZ PJ CROWLEY, DO DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA, RENUNCIA DEPOIS DE CRITICAR TORTURA DO SOLDADO BRADLEY MANNING Nos EUA, os Republicanos temem a voz das urnas e os Democratas a desprezam.” (David Frum, jornalista, pelo Twitter, em http://twitter.com/davidfrum/status/46981334614282240)

“PJ Crowley, porta-voz oficial do Departamento de Estado, tombou vítima da própria espada, ao dizer que o tratamento dado a Bradley Manning, acusado [ainda sem qualquer prova] de ser a fonte que entregou a WikiLeaks os arquivos sigilosos de telegramas diplomáticos sigilosos, que continuam a ser divulgados, seria “contraproducente e estúpido”.

A renúncia vem logo depois de Crowley ter feito aquelas observações, em seminário realizado no MIT, sobre o tratamento que Manning está recebendo numa prisão militar dos EUA.

Crowley disse textualmente: “O que o Departamento da Defesa está fazendo a Bradley Manning é ridículo, contraproducente e estúpido”.

A frase obrigou o presidente Obama a manifestar-se pela primeira vez sobre o modo como o soldado Manning está sendo tratado na prisão de Quantico, base da marinha, na Virginia. Obama defendeu a tortura de Manning. Disse que havia sido informado pelo Pentágono de que os procedimentos eram “apropriados” [sic].

Na carta em que apresenta sua renúncia ao posto, Crowley diz que assume total responsabilidade pelo que disse. Disse que considera os vazamentos “crime grave, nos termos da lei dos EUA”, mas não desmentiu críticas anteriores ao Pentágono.

Em palavras que podem ainda causar novas dificuldades para Obama, Crowley escreveu que seus comentários “visavam a lançar luz sobre o impacto muito maior, impacto talvez estratégico, de ações clandestinas empreendidas como rotina por agências de segurança nacional dos EUA, na imagem e na liderança global dos EUA. O exercício do poder nos tempos desafiadores que vivemos, e o trabalho da mídia, têm de ser prudentes e consistentes com a lei e os valores norte-americanos.”

Quando Obama chegou à Casa Branca, disse que um dos objetivos chaves de seu governo seria recuperar a imagem global dos EUA. Denunciou, então, o tratamento degradante que o governo Bush dava aos prisioneiros, como ação contrária aos interesses nacionais dos EUA.

Em carta-resposta oficial, Hilary Clinton disse que aceitara “com tristeza” a partida de Crowley. “PJ serviu nossa nação com distinção por mais de trinta anos, em uniforme e como civil” – disse ela.

A renúncia do principal porta-voz significa que a indignação contra a tortura do soldado Manning já alcançou os círculos superiores do governo Obama.

Manning está preso em confinamento (“solitária”) há dez meses. Tem sido submetido a condições especiais, alegadamente para evitar que se suicide. Essas condições implicam permanecer 23 horas por dia na cela sob vigilância ininterrupta, e completamente despido à noite.
 


O regime de segurança máxima ao qual está submetido na prisão de Quantico já foi denunciado como forma de tortura por muitos, inclusive por Daniel Ellsberg, que vazou para a mídia os “Pentagon Papers” sobre a guerra do Vietnã [ver “A vergonhosa violência contra Bradley Manning”, Daniel Ellberg, 12/3/2011,em http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/03/vergonhosa-violencia-contra-bradley.html]. A ONU também está investigando.

Muitos analistas já chamaram a atenção para o critério ambíguo que se vê por trás da renúncia de Crowley. Glenn Greenwald, repórter da revista Salon, que luta na vanguarda da denúncia contra os maus tratos infligidos ao soldado Manning, disse, pelo Twitter, que “torturar prisioneiros pode; manifestar-se contra a tortura de prisioneiros, é proibido”.

Semana passada, o próprio Manning manifestou-se sobre como está sendo tratado. Disse que a tortura visa a castigá-lo, mesmo antes de qualquer [culpa] acusação ou julgamento legal. Disse que, todas as noites, tiram-lhe todas as roupas, desde o dia em que fez um comentário sarcástico, ouvido por um dos guardas, sobre o absurdo do regime a que já estava condenado.

Manning foi acusado [sem provas] de vários crimes relacionados ao vazamento de milhares de telegramas diplomáticos sigilosos dos EUA, além de vídeos e imensos arquivos sobre o Afeganistão e o Iraque. Foi preso em maio de 2010, numa base militar dos EUA próxima de Bagdá, onde servia como especialista dos serviços de inteligência.”


FONTE: The Guardian

BRASIL, ÍNDIA, ÁFRICA DO SUL E A REVOLTA ÁRABE



Brasil-Índia-África do Sul já viram que a revolta árabe obriga a remodelar a ordem mundialPor M K Bhadrakumar (Embaixador indiano), no “Asia Times Online”, em 10/3/2011

ARAB REVOLT REWORKS THE WORLD ORDER

“O Brasil, a Índia e a África do Sul meteram uma cunha na engrenagem norte-americana, a qual, até domingo, parecia girar e girar e girar inexoravelmente na direção de implantar uma zona aérea de exclusão [orig. "a no-fly" zone”] sobre a Líbia.

De fato, os EUA ainda podem impor a tal zona de exclusão aérea. Mas, nesse caso, o presidente Obama terá de beber do cálice envenenado e ressuscitar a controversa doutrina do pós-Guerra Fria, cara aos governos que o antecederam, do “unilateralismo” por “coalizão de vontades”. Obama não terá onde esconder-se. E tudo o que fez em sua presidência para neutralizar a imagem dos EUA como país agressor [orig. “a ‘bully’”] irá por águas abaixo.

Domingo, Delhi hospedou reunião de alto nível de ministros de Relações Exteriores, com o Brasil e a África no Sul, que bem poderia não passar de ocasião para alguma retórica inócua sobre cooperação “sul-sul”. Nada disso.

A reunião ecoou diretamente no tumultuado sistema e na atormentada ordem internacional contemporânea. A reunião decidiu a favor de declarada oposição à galopante disposição do ocidente para impor uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia.

Tudo indica que os EUA e aliados, que estão ajudando os rebeldes líbios politicamente, militarmente e financeiramente, esperavam extrair um “pedido” do povo líbio, no máximo em um ou dois dias, que usariam como folha de parreira para aproximar-se do Conselho de Segurança da ONU e arrancar de lá a autorização para impor sanções sob os auspícios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Os rebeldes líbios são casa em que ninguém se entende: os nacionalistas opõem-se furiosamente a qualquer intervenção externa; e os islâmicos (muitos dos quais são nacionalistas) opõem-se a qualquer forma de intervenção ocidental.


O “UNILATERALISMO” É A ÚNICA OPÇÃO QUE RESTA SOBRE A MESA

Domingo também, reuniram-se em Bruxelas os ministros da Defesa dos países da OTAN para dar os toques finais, operacionais, à intervenção, pela OTAN, na Líbia. O fato de o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, ter participado da reunião mostra a importância que os EUA atribuem ao trabalho da OTAN na proposta de intervenção militar na Líbia. Gates não apareceu em outra reunião informal dos ministros de Defesa dos países da OTAN sobre a Líbia, realizada há duas semanas, nos arredores de Budapeste.

A diplomacia EUA-Grã Bretanha movia-se por trilha paralela, alardeando uma posição conjunta de todos os rebeldes líbios a favor de pedirem intervenção internacional na Líbia e, especificadamente, sob a forma de uma zona aérea de exclusão. A Liga Árabe e a União Africana mantinham-se sem se definir nem a favor nem contra aquela zona de exclusão.

Pelo cálculo de Obama, somente se se conseguisse gerar “um pedido” do povo líbio haveria meios para que a história algum dia absolvesse o ocidente, e o próprio Obama, pessoalmente, pelo crime de invadir membro soberano da ONU –pelo menos, alguma absolvição moral, que fosse. E o “pedido” seria via para empurrar também a Liga Árabe e a União Africana para dentro da mesma empreitada.

Obama é reconhecido por ser intelectual inteligente e cerebrino. É político com traços específicos e raros e merece confiança, no mínimo, por seu agudo senso histórico. Seu antecessor George W Bush, em situação semelhante, teria agido com “audácia”, palavra que, muito estranhamente, o próprio Obama escolheu para associar ao seu nome, em campanha eleitoral [1].

Obama, que sabe que tem encontro marcado com a história, tem dificuldades específicas para decidir-se sobre a Líbia. Robert Fisk, conhecido comentarista de assuntos do Oriente Médio, do jornal londrino Independent, publicou despacho urgente e sensacional, na 2ª-feira (“Obama pede que sauditas entreguem armas em Benghazi”), noticiando que o governo Obama havia procurado a ajuda do rei Abdullah da Arábia Saudita para que entregasse armas aos rebeldes líbios em Benghazi, com o que Riad ficaria ‘com o mico’, a Casa Branca nada teria a explicar ao Congresso dos EUA e não haveria pistas que levassem a Washington.

A depravação moral da jogada –alugar os serviços de um autocrata, para violar as fronteiras da democracia– destaca o desejo obsessivo, em Obama de camuflar qualquer intervenção unilateral dos EUA na Líbia, garantindo para ele mesmo “negabilidade” [2] perpétua, a qualquer custo.

E então, agora, vem o cruzado, certeiro, da reunião em Nova Delhi. Os três ministros de Relações Exteriores, que pertencem ao fórum conhecido pela simpática sigla IBSA (Índia-Brasil-Africa do Sul, ing. India-Brazil-South Africa) atrapalharam o bem urdido golpe de Obama, e lançaram comunicado conjunto, domingo, no qual “destacam que uma zona de exclusão aérea no espaço aéreo da Líbia, ou qualquer outra das medidas coercitivas além das previstas na Resolução 1970 só poderão entrar em cogitação se estiverem plenamente previstas na Carta da ONU e no Conselho de Segurança da ONU”.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio de Aguiar Patriota, disse à imprensa, em Delhi, que a declaração dos IBSA foi “importante manifestação” do que o mundo não-ocidental estava pensando. Disse o ministro brasileiro: “O recurso a uma zona aérea de exclusão é visto como expediente útil, em alguns casos, mas enfraquece todo o sistema de segurança coletiva e provoca consequências indiretas prejudiciais ao objetivo que todos estamos tentando alcançar”. Patriota acrescentou:

Intervir militarmente em situação de tumulto interno é sempre muito problemático. Qualquer decisão que vise à intervenção militar tem de ser analisada no contexto da ONU, em cerrada coordenação com a União Africana e a Liga Árabe. É muito importante não perder o contato com elas e identificar como veem a situação”. (The Hindu, Delhi, 8/3/2011)

Explicou que medidas como a zona aérea de exclusão de que agora se cogita podem tornar ainda pior uma situação já difícil e gerar sentimentos antiOcidente e antiEUA “que até agora ainda não surgiram”.

Também muito significativo é o fato de que o trio de ministros também divulgou declaração conjunta sobre o quadro geral no Oriente Médio. Apresentada como “IBSA Declaration” (Ministério das Relações Exteriores da Índia, 8/3/2011, em inglês, à espera de que o Ministério de Relações Exteriores do Brasil traduza e divulgue), a Declaração reitera a expectativa de que as mudanças que estão em curso no Oriente Médio e Norte da África “tenham desdobramento pacífico”; e manifestam confiança num “resultado positivo, em harmonia com os desejos do povo”.

Parte muito importante da declaração é o reconhecimento, já na introdução, de que o problema da Palestina está no coração do grande distanciamento de que padece o Oriente Médio, e que “desenvolvimentos recentes na Região oferecem uma oportunidade para uma paz ampla (…). Esse processo deve incluir a solução do conflito Israel-palestinos (…) que levará a uma solução de Dois Estados, com a criação de um Estado Palestino soberano, independente, unido e viável, coexistindo em paz ao lado de Israel, com as fronteiras pré-1967 asseguradas e com Jerusalém leste como capital”.

‘P-5′ PERDE BRILHO

Israel deve estar enlouquecidamente furioso com essa Declaração. Isso à parte, o que preocupará Obama e a OTAN, se três países, de três continentes ‘longínquos’, levantam-se e apresentam declaração conjunta sobre uma zona “no-fly”? Quem, afinal, são esses países? Ah, sim, Obama, sim, está preocupadíssimo. Em resumo curto, os três países estão hoje assentados como membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU e o que quer que digam tem altíssima visibilidade na ordem mundial que acicata a Líbia.

Em Delhi, tudo indica que pelo menos mais um membro não-permanente do Conselho de Segurança –o Líbano– acompanha a trilha aberta pelos IBSA. O que significa “a voz árabe”, afinal, no Conselho de Segurança.

Em resumo, o que se ouve agora é uma voz coletiva afro-asiática, árabe e latino-americana. E não é voz que possa ser facilmente nem calada nem descartada. Ainda mais importante, a posição de Brasil-Índia-África do Sul empurra pelo menos duas grandes potências, membros permanentes, com poder de veto, contra os chifres de um dilema agudo.

A Rússia diz que mantém política externa contrária ao “unilateralismo” dos EUA, e que se pauta estritamente pelo cânone da lei internacional e da Carta da ONU. E a China insiste que representaria os países desenvolvidos. Agora, a posição de Brasil-Índia-África do Sul torna virtualmente impossível que a China construa qualquer tipo de acordo faustiano com os EUA e as potências ocidentais em relação à Líbia… no concílio secreto dos detentores de poder de veto do Conselho de Segurança –conhecido como “P-5”.

Por tudo isso, a declaração conjunta de Brasil-Índia-África do Sul, IBSA, semelhante em vários sentidos ao movimento Turquia-Brasil, na questão do programa nuclear do Irã, está, de fato, denunciando a hipocrisia moral do P-5 e dos segredos e vielas ocultas pelas quais se esgueiram.

Interessante, também, que Delhi tenha subscrito o Comunicado IBSA no momento em que o vice-presidente dos EUA Joseph Biden voava para Moscou para reuniões amplas sobre os futuros rumos do “reset” das relações EUA-Rússia. Qualquer negócio que EUA e Rússia acertem agora, sobre a Líbia, no quadro do tal “reset”, aparecerá, inapelavelmente, como movimento de oportunismo político amoral ou, dependendo do negócio, imoral.

A posição da China não é menos apertada. A China hospedará a reunião de cúpula dos BRICSs em Pequim, em abril. Três ‘brics’ (Brasil, Índia e África do Sul) dos BRICS (Brasil, Índia, África do Sul e China) subscreveram a Declaração da IBSA. O grupo BRICS pode correr o risco de esvaziar o comunicado conjunto do IBSA sobre a Líbia? Falta perguntar à China. E a China pode, sozinha, andar na contramão de três importantes “países em desenvolvimento”?

Mas, pelo menos para a China, há perspectiva de algum alívio. A China pode, de fato, até, suspirar aliviada. A posição dos IBSA alivia a pressão que os EUA estão fazendo sobre ela, e impossibilita que o problema da “no-fly zone” sobre a Líbia converta-se em questão bilateral entre EUA e China. Semana passada, a China ajudou os EUA a aprovar a Resolução sobre a Líbia, no Conselho de Segurança. Foi movimento surpreendente, que a China tenha votado a favor de resolução que admite intervenção nos assuntos internos de país soberano.

Comentaristas ocidentais festejaram euforicamente a mudança no comportamento dos chineses na mesa superior da política mundial e já apostavam na certeza de que a China, afinal, teria começado a agir como potência “responsável”, disposta a trabalhar aliada ao ocidente, como “acionista” do sistema internacional –como faz a Rússia.

Claramente, a China está sob ataque de sedução, para que dê um passo adiante e fure suas próprias muralhas de princípios, também no que tenha a ver com aprovar a zona “no-fly” na Líbia. Nada sugere que a China ceda, sucumbida ante a bajulação. Mas fato é que, se sucumbir, lá estará, exposta, à plena luz, sob atenção vigilante dos países em desenvolvimento. Verdade é que será muito difícil, para Pequim, esconder tanto “pragmatismo”, sob o manto dos venerados princípios. Evidência indiscutível, isso sim, é que a Declaração de Brasil-Índia-África do Sul livrou a China de toda a pressão que os EUA aplicavam contra ela, para aprovar a zona “no-fly” sobre a Líbia.

A ÍNDIA RECUPERA A IDENTIDADE

Ocorre uma ideia interessante: estará a Índia forçando a mão dos chineses? Não há dúvidas de que Delhi percebeu que a crise da Líbia gera grande oportunidade para que a China trabalhe, em espírito de cooperação, com os EUA –o que seria bem vindo fermento no relacionamente geral entre as duas potências. A “no-fly” zone seria excelente aditivo e China e EUA entrariam em fase de boas relações alquimicamente produzidas. Pequim sabe que a presidência de Obama [e sua reeleição] dependem criticamente de como opere na crise do Oriente Médio.

Ao mesmo tempo, o movimento da Índia no IBSA não pode ser analisado como apenas “chinacêntrico”. Em termos geopolíticos e bofetada altamente visível, nos EUA. Em termos de ‘a ira de Obama’, haverá um preço a pagar. O fato de que a Índia se disponha a correr esse risco e, eventualmente, pagar o preço –com tanta coisa em disputa, no momento em que a Índia aspira a um assento permanente no Conselho de Segurança– dá significado especial à Declaração do IBSA. Fazia muito tempo que a Índia não se levantava para ser vista como front significativo da política exterior dos EUA.

É mais que simples coincidência, também, que a Declaração da IBSA fale tão abertamente a favor da causa dos palestinos. A Índia optou por correr risco calculado e incomodar Israel e o lobby pró-Israel nos EUA. Além disso, há outros sinais, também, de que a Índia afinal, decidiu promover ampla recauchutagem em suas políticas para o Oriente Médio. A Declaração da IBSA é apenas uma primeira manifestação de que a Índia começou a repensar sua política –e talvez essa não seja a modificação de mais longo alcance, na geopolítica da Região.

No momento em que os IBSA adotavam posição sobre a Líbia e o Oriente Médio, claramente a favor do nacionalismo árabe, o Conselheiro de Segurança Nacional da Índia, Shiv Shankar Menon –político de alta reputação como eficientíssimo diplomata, e que trabalha sob ordens diretas do primeiro-ministro Manmohan Singh– estava ocupado em importantes conversações em outro ponto do Oriente Médio, no Irã, com o presidente Mahmud Ahmadinejad.

Longe das câmeras de televisão, Menon entregou carta de Manmohan a Ahmadinejad. Segundo comunicado distribuído pelo gabinete de Ahmadinejad, o presidente do Irã disse a Menon:

Irã e Índia são países independentes, com papel significativo no encaminhamento das questões internacionais (…) As relações entre Irã e Índia são históricas e sustentáveis. Irã e índia, porque sempre se beneficiaram de preservar pontos de vista humanitários nas relações internacionais, devem trabalhar para modelar o futuro sistema mundial, de modo a que se rejam por princípios de justiça e amizade. A ordem que ainda rege o mundo está à beira do colapso. Sob as atuais circunstâncias, é muito importante que uma nova ordem mundial seja construída e é preciso conseguir que os que impuseram as leis da opressão contra todos não consigam reimpô-las, no novo contexto (…) Irã e Índia terão papel significativo nos desenvolvimentos mundiais futuros. Nossas duas nações, por suas origens e culturas fazem falta ao mundo, hoje.”

A mesma fonte informa que Menon disse a Ahmadinejad:

New Delhi trabalha hoje a favor de boas e amplas relações com o Irã, laços estratégicos, inclusive (…) Muitas das suas [de Ahmadinejad] previsões sobre desenvolvimentos políticos e econômicos no mundo já são realidade e as mudanças envolvem a própria ordem mundial, o que exige que continuemos a construir e estreitar as relações entre o Irã e a Índia (…) As relações entre a República Islâmica do Irã e a República da Índia estão além das relações políticas atuais, têm raízes culturais e civilizacionais, e os dois países têm grande potencial para aprofundarmos relações bilaterais, regionais e internacionais”.

Nada mais a dizer. Está tudo declarado e dito. Em resumo, esse tipo de contato político de alto nível entre Irã e Índia era impensável até bem pouco tempo. É sinal muito eloquente de quanta coisa mudou no Oriente Médio, do papel importante que o Irã alcançou e é sinal, também, de que a Índia já viu tudo isso, muito claramente.

Mais importante que tudo isso, a chegada de Menon a Teerã nesse momento, sob as atuais complexas e tumultuadas circunstâncias, em missão diplomática pioneira e sem precedentes [3], para ativar os entendimentos estratégicos entre Índia e Irã também é evidência de que cresce em toda a Região a consciência de que os tempos de dominação ocidental sobre o Oriente Médio caminham inexoravelmente para o fundo dos livros de história. A ordem mundial nunca mais será a mesma.”

Notas de tradução:

[1] The Audacity of Hope: Thoughts on Reclaiming the American Dream [A Audácia da Esperança] é o título do segundo livro de autoria do então senador Barack Obama. No outono de 2006 alcançou o 1º lugar na lista dos mais vendidos do New York Times e da Amazon.com, depois de promovido no programa de Oprah Winfrey. Dia 10/2/2007, menos de três meses depois da publicação do livro, Obama anunciou sua pré-candidatura, afinal vitoriosa no Partido e nas urnas, à presidência.

[2] Sobre “negabilidade total”, ver “Blackwater e a negabilidade total”, 21/9/2010, em , sobretudo a nota 1.

[3] Aqui, nosso brilhante companheiro analista erra. Há precedentes para esse movimento em que a Índia agora, afinal, está embarcando, bem vinda companheira. Celso Amorim e Lula do Brasil viram tudo isso ANTES da Índia. Patriota segue aquela trilha, bem seguida. E a Índia, muito provavelmente, também segue aquela trilha, aquela, sim, livre, independente, visionária e pioneira.”

FONTE: escrito por M K Bhadrakumar no "Asia Times Online" e reproduzido no "Rede Castorphoto" em “Arab revolt reworks the world order”. O autor do artigo, Embaixador*M K Bhadrakumar, foi diplomata de carreira; serviu no Ministério de Relações Exteriores da Índia. Ocupou postos diplomáticos em vários países, incluindo União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia. Artigo traduzido pelo “Vila Vudu” e postado no portal “Viomundo”.


Reator fotoquímico brasileiro inova com tecnologia de LEDs


Cientistas brasileiros desenvolveram uma nova versão de um reator fotoquímico usando a tecnologia dos LEDs - diodos emissores de luz.
Reatores fotoquímicos são usados, entre outros, na investigação de reações fotoquímicas, nos estudos da fotossíntese artificial e da terapia fotodinâmica, técnica utilizada no tratamento do câncer.
Reator fotoquímico
A maior inovação do novo reator fotoquímico é a substituição das lâmpadas fluorescentes por LEDs, uma nova tendência em tecnologia que aumenta consideravelmente a eficácia luminosa do aparelho.
O equipamento nacional foi desenvolvido ao longo de três anos por João Fernando Possato, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, e Alzir Azevedo Batista, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
"As vantagens oferecidas pelos LEDs são inúmeras, incluindo menor consumo de energia elétrica, maior durabilidade - os LEDs são até mil vezes mais duráveis do que as lâmpadas fluorescentes - menor geração de calor e, o mais importante, a seletividade luminosa que eles oferecem, permitindo selecionar eletronicamente o LED com pico de emissão luminosa ideal para a reação fotoquímica que se deseja irradiar", afirma Possatto.
Um reator convencional, fabricado na Inglaterra, chega a custar cerca de US$ 5 mil.
Reator inteligente
O reator convencional exigia que o controle de cada um dos fatores fosse manual: para diminuir ou aumentar a intensidade da luz era necessário reduzir ou aumentar a quantidade de lâmpadas no interior do reator, o que demandava tempo e trabalho.
O tempo de funcionamento do aparelho também era cronometrado por ação humana, ou seja, ao fim da reação, o equipamento precisava ser desligado manualmente. "Para uma reação simples, de duas ou três horas, não há grandes transtornos, mas no caso de uma reação demandar doze horas, o que é comum, há problemas", explica Possatto.
Pensando nisso, os pesquisadores planejaram um reator inteligente, controlado eletronicamente.
Já que os LEDs têm a característica de permitir um maior controle do seu funcionamento, Possatto desenvolveu um sistema embarcado no reator, microcontrolado, com uma interface gráfica de fácil utilização para o usuário.
Esse sistema permite a programação eletrônica da intensidade da emissão de luz, a seleção da energia, o tempo de excitação luminosa e monitoramento da temperatura.
Química verde
Outra vantagem dessa tecnologia é o menor impacto ao meio ambiente. Afinal, a substituição das lâmpadas incandescentes ou fluorescentes pelos LEDs, além de mais eficiência, causa um impacto menor no ambiente.
O aparelho inglês, convencional, é composto por um conjunto de lâmpadas fluorescentes que, por conter mercúrio, acabava contaminando o meio ambiente no processo de descarte.
"Os LEDs são considerados uma tecnologia limpa, reciclável, por isso mais seguros e compatíveis com o projeto Química Verde, que é uma tentativa de reduzir os contaminantes e trabalhar por uma química mais sustentável", explica o professor Batista.
O reator de LEDs está agora em fase de patenteamento e o próximo passo será a fabricação e a comercialização do reator fotoquímico.
Os pesquisadores já foram procurados por empresas interessadas: "Estaremos prontos para começar a produção em cerca de seis meses, e estamos iniciando a etapa de procura por parceiros para essa produção," conclui o professor Batista.

Fonte: Inovacao Tecnologica

EUA voltam a descumprir acordo do algodão


Os Estados Unidos atrasaram o cumprimento dos compromissos assumidos com o Brasil no acordo do algodão. Por exemplo, o início da consulta pública sobre a abertura do mercado americano para a importação da carne bovina nacional deveria ter ocorrido até o dia 31 de janeiro, mas vem sendo adiado. A questão era uma das compensações estabelecidas pelos EUA para que o Brasil adiasse a retaliação que faria ao país até 2012 na questão do algodão. O assunto pode ser discutido na visita do presidente americano, Barack Obama, neste fim de semana. 

Em 2003, o Brasil abriu um processo na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os EUA, alegando que os produtores de algodão americanos estavam recebendo ajuda financeira do governo. Segundo o argumento brasileiro, o subsídio fazia com que os agricultores produzissem mais, sem gastar tanto, o que provocava distorções nos preços dos produtos no mercado internacional, prejudicando os produtores brasileiros. 

A organização condenou os EUA a retirar o apoio, mas como isso não aconteceu, a OMC autorizou o Brasil a usar o direito de retaliação. Esse mecanismo funciona como uma forma de fazer pressão ao governo de determinado país que não aceita seguir as decisões estipuladas pelo órgão. Assim, o Brasil elevou as tarifas de importação para produtos americanos.

O governo brasileiro concordou em suspender a retaliação até 2012, depois que os EUA ofereceram algumas compensações. Entre elas, estava a abertura do mercado americano para as carnes brasileiras. Atualmente, a situação está praticamente concluída para a carne suína, mas não avançou para a carne bovina.

A última reunião sobre o acordo do algodão ocorreu no início de março em Brasília, quando os negociadores brasileiros fizeram perguntas sobre o impasse na carne bovina. Os americanos, no entanto, não deram nenhum prazo para cumprir a proposta. Segundo o embaixador do Brasil em Genebra, Roberto Azevedo, a liberação do mercado americano para a carne bovina nacional está sendo negociada desde 1999.

- É tempo demais e esperamos a cooperação das autoridades americanas. 

Acordo do algodão

Em junho do ano passado, o governo brasileiro aprovou um projeto de lei que permite que o Brasil aplique sanções autorizadas pela OMC contra os EUA. A medida tornava possível a suspensão de obrigações decorrentes do Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio.

Em dezembro do ano passado, no entanto, os dois países chegaram a um acordo que adiava a retaliação até 2012. O governo americano se comprometeu a fazer modificações imediatas nos programas de subsídios, além de criar um fundo de compensação para o Brasil, enquanto o apoio aos agricultores continuar. O plano é de que o Congresso dos EUA reveja a Lei Agrícola e a questão tenha uma solução definitiva.



Fonte: R7