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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Após protestos, Parlamento pede morte de opositores no Irã


O presidente do Parlamento iraniano, Alí Larijani, e os deputados da maioria conservadora lançaram nesta terça-feira violentos ataques verbais contra os líderes da oposição, um dia após protestos contra o governo.
Ao menos uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridas na manifestação desta segunda-feira, que recebeu apoio dos Estados Unidos. Nesta terça-feira, contudo, o clima é de tranquilidade nas ruas de Teerã e não há sinais de uma nova manifestação.

Os deputados iranianos gritaram "morte aos Estados Unidos", "morte a Israel" e "morte a [Mir Hossein] Mousavi e Mehdi Karroubi", líderes do reprimido movimento reformista.
"Karroubi e Mousavi são corruptos na Terra e devem ser julgados", disseram legisladores em comunicado citado pela agência de notícias Irna. No Irã, o crime de corrupção pode acarretar na condenação à pena de morte.

Larijani acusou ainda os EUA e seus aliados de dar apoio à oposição. "O principal objetivo dos americanos é simular os recentes eventos no Oriente Médio no Irã, para divergir as atenções desses países", disse o presidente da Casa, em referência aos protestos que invadem o mundo árabe e que já derrubaram ditadores da Tunísia e Egito.
As autoridades iranianas acusam repetidamente os líderes da oposição de fazer parte de um plano do Ocidente para derrubar o regime islâmico. Mousavi e Karroubi negam.



PROTESTOS

Nesta segunda-feira, sites de oposição censurados dentro do Irã e agências internacionais reportaram que milhares manifestantes foram às ruas protestar contra o governo, inspirados pelos protestos no mundo árabe.
Na Praça Azadi (liberdade, em farsi), em Teerã, jovens gritavam: "morte ao ditador!" -- um slogan usado contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad após as eleições presidenciais de 2009, que acusam de serem fraudulentas.

Os manifestantes, reunidos apesar de proibição, realizaram os primeiros protestos contra o governo em Teerã desde 11 de fevereiro de 2010, quando ativistas foram às ruas para lembrar o 31º aniversário da Revolução Islâmica.
Eles enfrentaram forte resistência da polícia e forças de segurança iranianas. O site de oposição Rahesabz.net informou que os confrontos foram registrados perto da Universidade de Teerã e na avenida que liga a Praça Azadi à Praça Enghelab. Há informações de que bombas de gás foram lançadas pela polícia enquanto manifestantes gritavam "Ya Hossein, Mir Hossein", um slogan de 2009 em apoio a Mousavi.



O site Rahesabz.net também reportou gritos contra o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, com gritos de "Ben Ali Mubarak, é sua vez Ali!".
Um manifestante foi morto a tiros por um policial e dezenas ficaram feridos, segundo confirmação das agências de notícias iranianas. O site Kaleme.com afirmou que "centenas de manifestantes foram presos em Teerã". Não houve confirmação oficial de nenhuma prisão.
O porta-voz do Judiciário, Gholamhossein Mohseni-Ejei, disse nesta terça-feira que "aqueles que criaram desordem pública serão confrontados firme e imediatamente".



Hillary diz que Irã deve preservar liberdade na internet

Após a dura reação do Parlamento e do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, frente ao milhares de opositores que saíram às ruas de Teerã na segunda-feira, quando ao menos dois morreram, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton disse que o país precisa preservar a liberdade de acesso à internet e reconheceu o poder das redes sociais nas revoltas que ocorrem na região.
Em discurso na Universidade George Washington, Hillary disse que os Estados Unidos apoiam as "liberdades de expressão, reunião e relacionamento on-line" e acrescentou que os protestos no Egito e Irã, alimentados por Facebook, Twitter e YouTube, refletem o poder das tecnologias de conexão como um "acelerador das mudanças política, social e econômica".
"Este é um momento crítico", disse. "As escolhas que fizermos hoje determinarão como será a internet no futuro".
Numa crítica direta à República Islâmica, que bloqueou o acesso à internet durante os protestos, disse que "os que reprimem a liberdade na Internet podem ser capazes de bloquear a plena expressão dos anseios de um povo por um tempo, mas não para sempre".
Ela mencionou ainda China, Cuba, Irã, Mianmar, Síria e Vietnã como países que restringem o acesso à Internet ou detêm blogueiros que criticam o governo.
A chefe da diplomacia americana disse ainda que a publicação dos telegramas diplomáticos secretos americanos pelo site WikiLeaks foi um "latrocínio" e que isto nada tem a ver com o compromisso americano com uma internet aberta.



EUA X IRÃ

Em meio à forte repressão iraniana aos protestos de ontem (14) no centro de Teerã e após o Parlamento ter jurado morte aos opositores que convocaram as manifestações, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que a revolta "vai fracassar".
A ameaça chega horas após seu colega americano, Barack Obama, ter pedido "coragem" aos iranianos para que os protestos não sejam interrompidos.
Ecoando os gritos dos parlamentares iranianos que mais cedo pediram "morte aos Estados Unidos", "morte a Israel" e "morte a [Mir Hossein] Mousavi e Mehdi Karroubi", líderes do reprimido movimento reformista, o líder da República Islâmica ameaçou os "inimigos" do país e disse que suas intenções de alimentar os protestos fracassarão.
"Está claro e evidente que a nação iraniana tem inimigos porque é um país que quer brilhar e alcançar seu pico, e quer mudar as relações [entre os países] no mundo", disse Ahmadinejad em entrevista ao vivo na emissora estatal.

"Claro que existe muita animosidade, mesmo contra o governo. Mas eles (os organizadores dos protestos) vão fracassar", disse quando questionado sobre a reação aos protestos contra o governo que ocorreram ontem (14).
Duas pessoas morreram nas manifestações e muitos ficaram feridos, incluindo nove membros das forças de segurança, afirmaram fontes oficiais.

Os Estados Unidos e Irã não têm relações diplomáticas oficiais desde a Revolução Islâmica, em 1979. Washington lidera o grupo de países que acusa Teerã de manter um programa nuclear militar, acusação que os iranianos negam.
Sob influência americana, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou no ano passado uma rodada de sanções contra o país persa por suas atividades de enriquecimento de urânio.



OBAMA

Mais cedo, Obama disse que era irônico que Teerã tenha aplaudido as manifestações populares que derrubaram o ditador Hosni Mubarak no Egito, mas "prenda e golpeie quem quer se expressar livremente" no país.
O presidente também disse que os Estados Unidos enviaram uma "mensagem clara" aos seus aliados no Oriente Médio, dando como exemplo as mudanças políticas ocorridas no Egito e que os governos na região estão começando a entender a "fome por mudança" de seus povos.

Nesta segunda-feira, em meio aos intensos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que os EUA apoiam as demandas dos opositores e saudou a coragem e as aspirações dos que protestam contra o governo Ahmadinejad. Segundo ela, a República Islâmica precisa "abrir" seu sistema político.
"Queremos para a oposição e o povo heroico nas ruas e nas cidades de todo o Irã as mesmas oportunidades que alcançaram seus homólogos egípcios na semana passada", disse Hillary à imprensa. "Apoiamos os direitos universais do povo iraniano. Merecem os mesmos direitos [dos exigidos pelos egípcios], que são parte de seus direitos naturais".

DESENTENDIDO

O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores iraniano, Ramin Mehmanparast, criticou mais cedo as declarações de Hillary e disse que Washington interpreta de forma errônea o que ocorre no Oriente Médio. Ele alega que a onda de protestos no mundo árabe é contra a influência dos Estados Unidos e do sionismo.

"Os comentários que fazem os responsáveis norte-americanos estes dias emanam da confusão devido às mudanças que se estão ocorrendo na região", afirmou, em sua habitual entrevista coletiva semanal.
"Essas mudanças infligem um dano aos interesses dos poderes dominantes e daqueles que respaldam o sionismo. Com este tipo de declarações unicamente tentam ocultar este fato", acrescentou o porta-voz.

Também nesta terça-feira, o presidente do Parlamento iraniano, Alí Larijani, acusou os Estados Unidos e seus aliados de dar apoio à oposição.
"O principal objetivo dos americanos é simular os recentes eventos no Oriente Médio no Irã, para divergir as atenções desses países", disse o presidente da Casa, em referência aos protestos que invadem o mundo árabe e que já derrubaram ditadores da Tunísia e Egito.



Fonte: Folha

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