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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Paraguai disse aos EUA temer 'controle irrestrito' do Brasil sobre seu destino, revela Wikileaks


Além da Colômbia que, conforme revelou despacho de 2004 vazado pelo Wikileaks, reclamou com os Estados Unidos sobre um suposto "imperialismo brasileiro" na América do Sul, a ex-ministra de Relações Exteriores do Paraguai, Leila Rachid, foi outra autoridade que buscou auxílio da diplomacia norte-americana contra a política externa brasileira, em uma reunião com o embaixador dos EUA em Assunção, em 21 de abril de 2005.

Conforme revelou nesta manhã o Opera Mundi, em 2004, a Colômbia queixou-se aos EUA do “espírito imperialista brasileiro”, de acordo com despacho diplomático obtido pelo Wikileaks. O país, governado até 2010 por Álvaro Uribe, também tentou impedir a criação do Conselho de Segurança Sul-Americano, defendido pelo Brasil, que acabou implementado em 2008. 

Leila Rachid foi chanceler entre 2003 e 2006, durante o governo do colorado Nicanor Duarte Frutos. Duarte foi o último presidente do Partido Conservador, que dominou a política paraguaia por seis décadas, até a vitória eleitoral do progressista Fernando Lugo, em 2008. Considerado um aliado próximo dos EUA, o paraguaio chegou a permitir a presença de tropas norte-americanas no país até 2006, como parte de um acordo de cooperação militar com os EUA.

Na época da reunião descrita no documento, o Paraguai estava atuando como presidente do Mercosul, e por isso havia emitido um comunicado conclamando o Equador a “preservar a democracia” diante do caos. No dia 20 de abril, o presidente equatoriano Lucio Gutierrez fora destituído pelo Congresso após ter perdido o apoio das Forças Armadas em meio a protestos populares. 

O comunicado do Mercosul evocava as diretrizes da recém-criada Comunidade Sul-Americana de Nações (que depois se tornaria a atual Unasul - União de Nações Sul-Americanas). Segundo disse Leila Rachid ao embaixador norte-americano, a observação foi resultado da insistência do ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, que preferiu a Unasul em vez da Carta Democrática Interamericana.

Ela explicou que se opôs à ideia porque a Comunidade Sul-Americana de Nações “é meramente um brilhozinho nos olhos a essa altura; foi anunciada como uma proposta no ano passado, mas falta estrutura, um conjunto de princípios acordados pelos membros e outras características normais de ‘institucionalização’”. Segundo o despacho, Amorim teria dito que citar a carta Interamericana seria um convite aos EUA para “interferir” em questões regionais, que, para o Brasil, deveriam ser cuidadas apenas pelos países sul-americanos. 

O documento prossegue: “Ela fez um comentário pessoal [dizendo] que Amorim está empurrando uma agenda para minimizar a influência dos EUA na América do Sul e afirmar o domínio brasileiro, uma direção que ela se opõe fortemente porque se traduz em controle irrestrito do Brasil sobre o destino do Paraguai”, diz o despacho.

Um mês depois, em 13 de maio, Leila seria ainda mais explícita. Ela compareceu a outra reunião com o embaixador norte-americano John F. Keane para tratar do congresso ministerial da OEA (Organização dos Estados Americanos) e a possibilidade de assinar o Artigo 98 – segundo o qual o Paraguai se comprometeria a não extraditar cidadãos norte-americanos ao Tribunal Penal Internacional.

Nessa reunião, Rachid não poderia ser mais clara: pediu um encontro com a secretária de Estado Condolezza Rice sobre a atitude comercial brasileira e a política externa. “Ela reclamou que o Brasil havia cortado cotas de exportações paraguaias”, relata o documento. “Ela também estava preocupada com a ambição brasileira de se tornar a maior liderança política na região e instou que os EUA se afirmassem para se opor ao Brasil”. 



Fonte: Opera Mundi

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