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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Confrontos na Líbia já mataram 300, diz filho de Muammar Kadhafi


Os confrontos durante a revolta popular contra o regime do coronel Muammar Kadhafi já deixaram 300 mortos (242 civis e 58 militares), segundo dados divulgados na noite desta terça-feira (22) por Saif al Islam, filho do ditador Muammar Kadhafi.
Cerca de metade das mortes ocorreram na segunda maior cidade do país, Benghazi, situada 1.000 km a leste da capital, Trípoli, e foco da insurreição.

É a primeira cifra oficial de mortos desde o começo dos protestos, em 15 de fevereiro.
Nesta terça, a Human Rights Watch afirmou que as mortes apenas na capital, nos últimos três dias, chegavam a 62. Protestos nas cidades do leste do país teriam deixado pelo menos 233 mortos, também segundo a entidade.
O clima no país era tenso, com relatos de que muitas cidades do leste estavam em poder de manifestantes.

Kadhafi fez seu primeiro discurso televisionado desde o começo da crise. Em um tom enfurecido, ele afirmou que ainda é o "chefe da revolução" que o levou ao poder em 1969, disse que iria lutar até a "última gota de sangue" e ameaçou os manifestantes.
Diplomatas, líderes tribais e líderes religiosos continuavam anunciando adesão à revolta.
O general Abdul Fatha Yunis, ministro do Interior, anunciou sua demissão e pediu às Forças Armadas que se unam ao povo em sua "luta por suas demandas legítimas", segundo a rede de TV Al Jazeera.

A pressão diplomática sobre o regime também crescia. A Liga Árabe, em reunião extraordinária, suspendeu o país de suas reuniões até que as demandas dos manifestantes sejam cumpridas. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que seu país tomaria as "medidas adequadas" sobre a Líbia no tempo certo.
O gasoduto que liga a Líbia à Itália foi fechado, segundo a gigante petroleira ENI. Mas, segundo a empresa e o governo italiano, não havia risco de desabastecimento.

Conselho de Segurança pede 'fim imediato da violência' na Líbia

O Conselho de Segurança da ONU condenou os atos de violência em resposta aos protestos na Líbia e divulgou uma declaração pedindo o "fim imediato da violência", nesta terça-feira (22).
Na declaração, o órgão máximo de decisões das Nações Unidas pede que o ditador Muammar Kadhafi assuma responsabilidade pelos ocorridos e cumpra a obrigação de proteger a população civil.
O conselho está "muito preocupado com a situação na Líbia e condena firmemente os atos de violência ali ocorridos", disse a embaixadora do Brasil Maria Luiza Ribeiro Viotti, que ocupa a presidência rotativa do colegiado.
O Conselho também solicitou às autoridades líbias que garantam a segurança de estrangeiros e se certifiquem de que membros de equipes humanitárias tenham acesso aos feridos.
Os responsáveis pelos ataques contra cidadãos na Líbia devem "ser responsabilizados", acrescentou o comunicado divulgado no fim de um dia de conversas.
Diplomatas líbios, que romperam com o líder Muamar Kadhafi, haviam solicitado a reunião, e pediram uma zona de proibição de voo sobre o país imposta pela ONU, assim como ação humanitária.


Kadhafi afirma que ainda é 'chefe da revolução' e que não deixará a Líbia

O ditador Muammar Kadhafi "amaldiçoou" nesta terça-feira (22) os responsáveis pelos protestos de rua contra o seu governo, que paralisam o país desde 15 de fevereiro, e criticou os países "árabes e estrangeiros" que estariam tentando desestabilizar a Líbia.
Em um tom raivoso, gesticulando e apontando o dedo para o alto, ele disse que ainda é o "chefe da revolução" no país, que governa desde 1º de setembro de 1969 após um golpe de estado, e disse que deixar a Líbia "não está entre as suas opções" e que pretende morrer no país.

"Muammar Kadhafi é o líder da revolução, sinônimo de sacrifícios até o fim dos dias. Este é o meu país, de meus pais e antepassados", disse.
"Morrerei como um mártir na terra de meus ancestrais", afirmou, em um longo discurso televisionado pela TV estatal, e aparentemente improvisado, feito possivelmente em frente a um prédio bombardeado por aviões norte-americanos no ataque de 1986.

O coronel, de 68 anos, culpou EUA e Reino Unido pela orquestração dos protestos, que já provocaram centenas de mortes no país, e disse que a Líbia já resistiu antes às investidas das potências e que resistiria novamente.
Ele também pediu que seus partidários vão às ruas a partir desta quarta-feira (23) para enfrentar os "ratos" e "mercenários" que protestam contra o regime e "garantir a segurança" nas cidades do país.

"Eu vou lutar até a última gota do meu sangue, com o povo da Líbia por trás de mim", disse.
Kadhafi tinha nas mãos durante o discurso o Livro Verde, compêndio de doutrinas publicado nos anos 1970 e que serve de Constituição para o país.

O ditador também ordenou que o Exército e a polícia "tomem controle" da situação e afirmou que os "manifestantes armados" que querem transformar a Líbia em um "Estado islâmico" e podem ser punidos com a pena de morte.
Ele afirmou que ainda "não usou violência" na repressão aos protestos, mas ameaçou começar a fazê-lo, ameaçando dar uma resposta semelhante à ocorrida em Tiananmen (massacre da Praça da Paz Celestial, na China) e Fallujah (no Iraque), em que manifestantes pró-democracia foram massacrados.

"O povo líbio está comigo", disse.
Kadhafi criticou a imprensa estrangeira que cobre os protestos, que, segundo ele, estaria "trabalhando para o diabo".

Kadhafi não havia feito nenhuma declaração oficial desde o início das manifestações contra o regime. Ele fez apenas uma breve aparição pública na madrugada desta terça para desmentir os boatos de sua fuga para a Venezuela.

Mortes

A repressão dos protestos apenas na capital da Líbia, Trípoli, causou ao menos 62 mortos em Trípoli desde domingo, afirmou nesta terça a organização de defesa dos direitos Human Rights Watch (HRW) com base em dados recebidos de dois hospitais da capital.
Como apenas dois hospitais foram ouvidos, o número poderia aumentar.
A entidade, com sede em Nova York, também confirmou relatos de que policiais e militares atiraram indiscriminadamente contra manifestantes.

À frente do país desde 1969, o coronel Kadhafi está pressionado após a violenta repressão a protestos populares contra o seu governo, que deixaram centenas de mortos.
Não há informação oficial dos dados sobre vítimas, que são frequentemente contraditórios.
A própria HRW disse, na segunda, que pelo menos 233 pessoas tinham morrido em confrontos nas cidades do interior. A Federação Internacional dos Direitos Humanos afirmavam que poderia haver entre 300 e 400 mortos.
Diplomatas, líderes tribais e líderes religiosos deixaram de apoiar Kadhafi nos últimos dias e pedem sua saída.



Situação caótica

A situação em várias cidades do país é caótica, segundo vários relatos.
O lado líbio da fronteira egípcia estava sob controle de rebeldes armados com cassetetes e fuzis Kalashnikov, que saudaram visitantes vindos do Egito, relatou um correspondente da Reuters que atravessou a fronteira, entrando na Líbia.

Soldados líbios na cidade de Tobruk disseram que eles não apoiam mais Kadhafi e confirmaram que o leste do país está fora do controle do governo. Moradores afirmaram que a cidade está agora em mãos do povo e vem sendo assim há três dias.
As manifestações se espalharam para Trípoli, partindo de Benghazi, a segunda maior cidade do país e berço da revolta, e já chegou a várias cidades. Moradores de Benghazi dizem que a cidade agora está sob controle dos manifestantes.

Um líbio que não pôde ser identificado disse ao correspondente da Reuters em território líbio que Benghazi foi "libertada" no sábado de um batalhão pertencente a um dos filhos de Kadhafi.

Os combates em Benghazi teriam sido interrompidos nesta terça, pois seus habitantes temem a possibilidade de bombardeios, segundo testemunhos feitos por telefone à France Presse.
As operações em três portos de carga no Mediterrâneo -Benghazi, Trípoli e Misurata- foram fechadas em decorrência da violência no país, disseram fontes do setor de navegação.
Os combates explodiram no leste produtor de petróleo da Líbia na semana passada, em uma reação a décadas de repressão e após levantes que derrubaram líderes na Tunísia e no Egito, e depois chegaram a Trípoli.

Repercussão

O secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), Abdel Rahman Attiya, lançou um apelo nesta terça aos países árabes e islâmicos e à comunidade internacional para que "o genocídio" do povo líbio seja detido.
Em um comunicado, o secretário do CCG - que reúne Bahrein, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Qatar e Kuwait - denunciou "as violências perpetradas pelo regime contra o povo líbio".
Attiya pediu "uma ação árabe, islâmica e internacional para apoiar o povo líbio que enfrenta um verdadeiro genocídio".
A Jordânia, por sua vez, exigiu o fim "imediato" do "banho de sangue" na Líbia.

Embarcação vai resgatar brasileiros na Líbia, informa Itamaraty


O Ministério das Relações Exteriores informou que uma embarcação vai resgatar nesta quarta (23) ou na quinta um grupo de 183 brasileiros retidos na Líbia devido aos conflitos no país. Eles serão levados para Malta, informou a assessoria do Itamaraty.
Esses brasileiros, segundo a assessoria, são funcionários da construtora Queiroz Galvão que estão na cidade de Benghazi, um dos focos do conflito entre manifestantes e forças do governo.

A assessoria da Queiroz Galvão não confirmou a informação sobre o resgate dos funcionários. "Visando preservar a segurança de nossos colaboradores, a Queiroz Galvão não irá informar data, hora nem lugar da transferência dos funcionários da empresa e familiares que estão em Benghazi, na Líbia", informou a assessoria da empresa.
O Itamaraty, porém, informou que a embaixada brasileira em Atenas, na Grécia, providenciou a embarcação, que já estaria a caminho da Líbia.

Ainda de acordo com o Itamaraty, o embaixador brasileiro na Líbia,  George Ney, estaria "fazendo gestões" junto ao governo líbio nesta terça-feira para facilitar a saída dos brasileiros no país. O governo brasileiro providenciará documentos para quem estiver sem passaporte.
A opção pelo transporte marítimo teria sido feita devido aos danos causados durante os protestos ao aeroporto de Bengazhi, que estaria sem condições de receber aeronaves.
De acordo com o Itamaraty, entre 500 e 600 brasileiros vivem na Líbia, a maior parte funcionários de empresas brasileiras – além da Queiroz Galvão, Petrobras, Odebrecht e Andrade Gutierrez atuam no país.



Fonte: G1

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