Páginas

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Brasil: Lobão rebate críticas à falta de investimentos no setor elétrico



O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, rebateu duramente as críticas que, segundo ele, vêm sendo feitas à falta de investimentos no setor elétrico no Brasil e também à interferência política na gestão do Sistema Eletrobras e de suas coligadas. "O doutor José Sarney (presidente do Senado) não tem um diretor no sistema Eletrobras, não tem um diretor nas agências. Como é que se pode conviver com uma coisa (as críticas) dessas?", disse em seu discurso nesta segunda-feira, 28, durante a posse do novo presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, na Firjan, no Rio.

Referindo-se especialmente à ocorrência do apagão que deixou oito Estados do Nordeste sem energia no início do mês, Lobão brincou: "Fui dizer que o sistema era robusto e durante uma semana ou duas só apanhei. Eu disse que o sistema é robusto, mas não é infalível".
"Nossos problemas não são decorrentes de falta de investimentos. Nunca se investiu tanto no setor elétrico como agora. Dentro dos próximos dez anos serão investidos R$ 388 bilhões. Nos últimos oito anos o governo investiu R$ 40 bilhões, e foi responsável por 38% de tudo o que existe existiu até hoje em energia elétrica no país", acrescentou o ministro.

Lobão ainda admitiu que a "transmissão até que é falha, mas o governo está tentando reverter isso". Ele ressaltou que, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram implementados 32% dos atuais 100 mil quilômetros de linhas de transmissão existentes no País. "Como é que se pode dizer que não se tem investimentos? Para dizer o mínimo é tentar tapar o sol com a peneira."

Lobão aproveitou a ocasião para defender investimentos em usinas nucleares, afirmando que os acidentes ocorridos até hoje são "exceções" e não podem ser tomados como regra. "Até o lixo das usinas, que era um grande problema, já não existe mais. Duram apenas 500 anos. O que são 500 anos? É a idade do Brasil", afirmou.
O ministro citou suas viagens para China, Estados Unidos, Alemanha e Espanha para comentar sobre seu conhecimento a respeito dos projetos existentes tanto para hidrelétricas quanto para energia eólica. Especialmente sobre esta última afirmou que "não se pode desprezar esta fonte limpa, e nem a solar". "Temos que fazer tudo isso com a segurança que se pode obter no sistema integrado", acrescentou.



Grandes apagões viram rotina no Brasil

Dez anos depois de mergulhar no maior racionamento da história, o Brasil volta a conviver com problemas no setor elétrico. Mas, desta vez, a crise não está na falta de energia, como ocorreu em 2001, mas na dificuldade de fazer o produto chegar até o consumidor final. Nos últimos meses, uma série de apagões e blecautes regionais causaram transtornos e prejuízos aos brasileiros.

Só neste ano, até o dia 22, foram 14 grandes ocorrências, conforme relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A maior delas deixou o Nordeste sem luz por até cinco horas. O incidente - ainda sem explicações precisas - garantiu ao Brasil o título de país com o maior número de blecautes de grandes proporções. Das seis maiores ocorrências registradas no mundo desde 1965, três são do Brasil: em 1999 (97 milhões de pessoas), 2009 (60 milhões) e 2011 (53 milhões), segundo a consultoria PSR. O maior ocorreu na Indonésia, em 2005, atingindo 100 milhões de pessoas.

Além dos grandes apagões, que normalmente ocorrem por falhas no sistema de transmissão, a população também tem convivido com uma série de desligamentos na rede de distribuição, de responsabilidade das concessionárias. Nesses casos, os cortes estão limitados às áreas de concessões das empresas, cidades ou bairros. As companhias alegam que a culpa é de São Pedro e que as redes não têm suportado as fortes chuvas.

Os constantes blecautes estão traduzidos na piora do indicador de qualidade do fornecimento de eletricidade, medido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Nos últimos três anos, o tempo médio que o brasileiro ficou sem luz subiu quatro horas. "Hoje temos energia e não conseguimos entregá-la com a qualidade necessária. O problema é que o governo nunca explica o real motivo dos apagões", afirma o diretor-presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria.

Para especialistas, a origem dos apagões está em investimentos menores que a necessidade da rede de transmissão e distribuição. "Houve um descompasso entre os investimentos da geração e transmissão", afirma o presidente da Compass Energia, Marcelo Parodi. Mas o problema não é a falta de novos empreendimentos, já que a Aneel tem feito leilões contínuos de linhas de transmissão e as distribuidoras, ampliado o número de clientes.
O problema está nos equipamentos antigos, que nem sempre recebem a manutenção adequada, especialmente diante do forte aumento do consumo. De 2000 pra cá, o uso de energia pelo brasileiro subiu 36%, apesar do racionamento, que derrubou em 8% o consumo em 2001.

"Se uma empresa não está investindo o suficiente agora, o problema só vai ocorrer anos mais tarde", afirma o presidente da PSR Mário Veiga. Ou seja, os apagões de hoje podem ser resultado de anos sem investimentos adequados.



Substituto do Bertin em Belo Monte deve sair no início de março, diz Lobão

Em rápida entrevista ao ser interceptado por jornalistas na saída da posse do novo presidente da Eletrobras, no Rio, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que "qualquer decisão sobre o substituto do Frigorífico Bertin na composição societária da empresa responsável por construir a usina de Belo Monte deve sair nos primeiros dias de março". Lobão não quis dar detalhes do tema e nem sequer disse se esta previsão é para a antes ou depois do carnaval.

Ainda no meio do tumulto, Lobão comentou a alta dos preços internacionais do petróleo. Indagado sobre a manutenção dos preços do diesel e da gasolina no mercado interno, o ministro lembrou que eles estão congelados nos últimos dois anos e que a última alteração que ocorreu foi uma redução. "Até certo limite dá para segurar", afirmou. Questionado se esse limite poderia ser de US$ 110 a US$ 120 por barril no mercado internacional, Lobão consentiu: "Mais ou menos por aí".



Guerra com setor ambiental

Lobão rebateu os dados que apontam que em 2010 houve mais desligamentos de energia (apagões) do que no ano anterior e aproveitou a deixa para atacar a "verdadeira guerra" que é travada "dia-a-dia" com o setor ambiental.
"Houve uma crítica pesada de que em 2010 houve muito mais desligamentos do que em 2009. Mas não se disse que esta diferença envolveu apenas uma linha, que vai de Mato Grosso a Rondônia. E por que houve isso naquela linha? Porque estamos na tentativa de construir uma linha nova, mas tivemos embaraços", afirmou.

Dirigindo-se especificamente ao novo presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, que tomou posse hoje, ele destacou: "O senhor não imagina qual é a guerra que temos que enfrentar dia-a-dia com o setor ambiental".
"Acho que a defesa do meio ambiente é dever de cada pessoa. Estamos vendo todos os dias os impactos disso. Portanto, a preservação ambiental é um dever de todos. Mas não podemos levar isso aos limites do absurdo. Muitas vezes não é necessário tomar aquela posição que de nós é exigida", disse.

Lobão exemplificou com a adoção do sistema de usinas plataformas no Rio Madeira a preocupação com o meio ambiente que o Ministério de Minas e Energia possui. "Nós adotamos o mesmo sistema utilizado pela Petrobrás nas plataformas, que é levar o funcionário até lá, mas não deixar que ele se instale lá. Assim reduzimos os impactos na região", afirmou.



Fonte: Estadao

Nenhum comentário:

Postar um comentário