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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Repressão a protestos antigoverno já matou 640 na Líbia, diz entidade


Pelo menos 640 pessoas já morreram na Líbia desde 14 de fevereiro nos protestos contra o regime de Muamnar Kadhafi, anunciou nesta quarta-feira (23) a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH).
O número representa mais que o dobro do balanço oficial do governo da Líbia, divulgado na véspera, de 300 mortos. A FIDH, com sede em Paris, menciona 275 mortos na capital na Líbia, Trípoli, e 230 na cidade de Benghazi, epicentro dos protestos, no leste do país.

Entre os mortos em Benghazi, 130 seriam militares que foram executados por seus superiores porque não quiseram atacar os manifestantes antigoverno, segundo a entidade.
As informações vindas do país deflagrado são frequentemente contraditórias, e há estimativas de que o número de vítimas seria maior.
O país se encontra em meio ao caos desde o começo dos protestos, com relatos de que a região leste está totalmente em mãos dos manifestantes. 

Vários países, inclusive o Brasil, organizam-se para retirar seus cidadãos que estão na Líbia.
A União Europeia (UE) está preparada para retirar 10 mil de seus cidadãos que se encontram na Líbia nas próximas horas e dias, incluindo por via marítima, anunciou nesta quarta-feira o Executivo comunitário. Fontes diplomáticas afirmaram que os europeus esperam a retirada dos cidadãos para, depois, impor sanções à Líbia.

O governo líbio argumenta que as manifestações são orquestradas por elementos ligados à rede terrorista da al-Qaeda. A equipe da France Presse viu rebeldes - na maioria armados - na estrada próxima ao litoral mediterrâneo que vai da fronteira com o Egito à cidade de Tobruk, a 150 quilômetros mais a oeste.
Por todas as partes há insurgentes com a bandeira da independência de 1951, anterior ao regime de Kadhafi.

A rebelião, parcialmente inspirada nas revoltas das vizinhas Tunísia e Egito, onde governos ditatoriais caíram, se alastrou para Trípoli, a capital, no oeste.
A pressão internacional contra o coronel, no poder desde 1º de setembro de 1969, também cresce. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, pediu à Europa que suspenda todos os laços econômicos com a Líbia e adote sanções contra o país, depois da forte repressão aos protestos da oposição.

"Eu gostaria de ver a suspensão de relações econômicas, comerciais e financeiras com a Líbia até o próximo aviso", disse.

Sarkozy afirmou que, entre as possíveis medidas, estavam o julgamento dos responsáveis, a proibição de viagem deles à União Europeia e um monitoramento de suas transferências de recursos.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, anunciou no Cairo a suspensão das negociações iniciadas em 2008 com a Líbia para um acordo de cooperação, que incluía um importante capítulo comercial.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exigiu ações internacionais contra os ataques a civis. Em advertência ao líder líbio Ban afirmou: "os responsáveis pelo brutal derramamento de sangue de inocentes devem ser punidos", acrescentando que a Líbia está agora em uma conjuntura perigosa.

Kadhafi diz que fica

Também na véspera, o coronel Kadhafi fez um raivoso discurso televisionado, em que reafirmou que só sai do poder morto e prometeu destruir os opositores como se fossem ratos.
Mas a fala do ditador não intimidou os manifestantes, que mantiveram os atos de rua contra o regime nesta quarta. Também aumentam as deserções de políticos e diplomatas ligados ao regime, além de líderes religiosos e tribais.
Dois militares ejetaram-se de um caça, que caiu, para evitar um bombardeio a Benghazi, segundo uma fonte militar.

'Êxodo bíblico'


"Sabemos o que nos espera quando o regime líbio cair: uma onda de 200 mil a 300 mil imigrantes. Dez vezes mais que o fenômeno albanês dos anos 90", afirmou, antes de destacar que estas são estimativas 'otimistas'.

Ele afirmou que o número de mortos até agora no país pode chegar a mil.
A Cruz Vermelha também alertou para um "risco catástrofico" de êxodo em massa de líbios para a Tunísia. Trezentos palestinos que estão na Líbia receberam autorização de viajar aos territórios palestinos, anunciou, em Jerusalém, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, como gesto humanitário. Ele disse ter respondido a um pedido pessoal do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) considerou "imperativo" nesta quarta que as fronteiras da Tunísia e do Egito com a Líbia permaneçam abertas para permitir às pessoas "que fogem deste país colocarem-se em segurança".



Países devem falar à Líbia 'em uma só voz', diz Obama sobre o massacre


O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta quarta-feira que o derramamento de sangue e o sofrimento na Líbia são "ultrajantes e inaceitáveis".

"O sofrimento e o derramamento de sangue são ultrajantes, e isto é inaceitável. Como também são as ameaças e as ordens para atirar em manifestantes pacíficos e as punições contra o povo da Líbia. Estas ações violam as leis internacionais, e todos os padrões de decência comum. Esta violência precisa acabar", disse o presidente.

"Em uma situação de instabilidade como esta, é imperativo que as nações e pessoas do mundo falem com uma só voz e este tem sido nosso foco", acrescentou.

Obama afirmou que pediu à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que viaje a Genebra para participar da reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre o tema.
Ele também disse que seus assessores de política externa têm "trabalhado contra o tempo" para preparar uma resposta à violência e disse que está analisando "diversas opções" para responsabilizar a Líbia.

O presidente não mencionou o nome do líder líbio Muammar Kadhafi em seu pronunciamento, e também não detalhou o tipo de medidas que a Líbia pode enfrentar.
Mas já houve pedidos de novas sanções contra o governo do país do norte da África, como congelamento de bens, e até de uma zona de proibição de voo estabelecida pela Otan para proteger os civis.

"Como todos os governos, o governo líbio tem a responsabilidade de conter a violência, de permitir assistência humanitária para os que necessitam e de respeitar os direitos de seu povo", disse.

"Ele deve ser responsabilizado por seu fracasso em cumprir estas responsabilidades e enfrentar os custos do prosseguimento das violações dos direitos humanos".

Hillary Clinton celebra a 'liderança internacional' do Brasil

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, enfatizou a crescente "liderança internacional" do Brasil, depois de uma reunião em Washington com o chanceler Antonio Patriota, para preparar a futura viagem do presidente Barack Obama ao país.

"Admiramos muito a crescente liderança mundial do Brasil", disse Hillary a jornalistas nesta quarta-feira (23), depois de receber Patriota no Departamento de Estado.
"Acreditamos que há muitas áreas nas quais o Brasil demonstrará sua liderança e queremos dar nosso apoio a esses esforços", completou.

Obama iniciará sua primeira viagem à America do Sul e Central em 19 de março em Brasília, onde se reunirá com a presidente Dilma Rousseff, e um dia depois visitará o Rio de Janeiro, antes de seguir viagem para Chile e El Salvador.
Hillary falou das iniciativas para o desenvolvimento do Brasil, que detém atualmente a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, mas a chefe da diplomacia americana não deu seu apoio às aspirações brasileiras de obter um assento fixo nesse organismo.

"Esperamos ter um diálogo construtivo com o Brasil sobre esse tema durante a viagem de Obama e no futuro", limitou-se a dizer Hillary.

"Queremos ver os Estados Unidos fazerem parte de uma profunda reforma do Conselho de Segurança", disse Patriota.

Washington quer que a viagem de Obama sirva para "explorar vias adicionais" para impulsionar a "robusta relação" bilateral, com uma agenda que inclui desde temas globais como direitos humanos e segurança alimentar, até energia, comércio, luta contra a pobreza e igualdade de gênero.

"O Brasil dá muito ao desenvolvimento do mundo. Muitas vezes cito o país como exemplo", disse Hillary.

Hillary e Patriota abordaram o tema das manifestações a favor da democracia no mundo árabe, assim como o programa nuclear iraniano, que no passado causou divergências entre ambos os países. As manifestações nos países árabes "podem apenas provocar solidariedade por parte dos brasileiros", disse Patriota, que, no entanto, reiterou a preocupação de seu país com o "uso da força contra manifestantes desarmados" na Líbia.
Hillary minimizou qualquer divergência com o Brasil em relação ao Irã: "todos estamos buscando formas de influenciar o comportamento do regime iraniano".

Brasília busca "reduzir a desconfiança entre Irã e outros países", disse Patriota, que afirmou que Washington "entende" a posição de seu país.



Fonte: G1
O chanceler italiano Franco Frattini disse temer um "êxodo bíblico" de imigrantes procedentes da Líbia, além de considerar impossível imaginar o futuro no caso de queda do regime.

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