Páginas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Wikileaks: para especialistas, falar em 'imperialismo brasileiro' é exagero



De acordo com documentos sigilosos revelados pelo Wikileaks nesta quinta-feira (17/02), o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe se queixou com funcionários diplomáticos dos Estados Unidos da "posição imperialista" desempenhada pelo governo brasileiro na América do Sul e apontou que o Brasil busca construir uma aliança anti-EUA na região.

"O Brasil é percebido com um misto de expectativa e temor pelos seus vizinhos”, afirmou ao Opera Mundi o professor Amado Luiz Cervo, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Os outros países "vêem o Brasil como uma fonte de oportunidades, mas também com temor por causa da assimetria. A relação é muito desequilibrada. É um país com capacidade econômica, militar, e é o único do continente com condições de se projetar como um ator global", disse Cervo. 

Para ele, o Paraguai – que tem na memória a guerra em que perdeu significativa parcela da sua população, levando-o a ser até hoje um dos países mais atrasados do continente – é a nação com a visão mais negativa. “A imagem do Brasil como um país imperialista é muito forte no Paraguai”, explicou Cervo. “É uma relação muito difícil. Existem algumas iniciativas de parceria, mas são insuficientes para militar esse temor e insegurança dos vizinhos com relação a nós."

Para Mark Weisbrot, diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, tais preocupações, assim como países buscando a proteção dos EUA contra outros países vizinhos, são atitudes do passado. “No caso de Uribe, se tratava de um governo bastante à direita. Agora vejamos Juan Manoel Santos. Ele é de direita, mas decidiu ir por outro caminho”, analisou. Isso porque, segundo ele, as mudanças que aconteceram no continente nos últimos dez anos, com uma aliança entre governos de esquerda, vieram para ficar.

“É muito importante para os EUA que a Colômbia mantenha uma hostilidade contra a Venezuela na sua fronteira, porque os EUA estão sempre tentando desestabilizar a Venezuela, e têm inclusive uma estratégia eleitoral, baseada em Washington. Mas, mesmo assim, Santos fez as pazes com Chávez. Foi um momento decisivo na mudança de atitude, em minha opinião.”

Situação que evita grandes esferas de influência dos EUA em toda parte na América do Sul. “Todo país tem uma direita aliada aos EUA, esteja no poder ou não. É uma aliança que foi forjada durante décadas, há uma forte ligação, e isso não acaba de um dia para o outro”, disse Weisbrot.

Para ambos os pesquisadores, falar em imperialismo brasileiro é um exagero. “Não há um desígnio de expansão territorial nem militar”, opinou Cervo.

Para Weisbrot, a grande exceção, na política externa recente, é o Haiti. “Neste caso, o Brasil se aliou aos norte-americanos contra um país pobre e indefeso onde os EUA haviam derrubado um governante eleito democraticamente, e tudo indica que o Brasil fez isso na esperança de obter um assento no Conselho de Segurança da ONU”.

Mas a essência do aumento da influência regional brasileira, segundo Cervo, é o crescimento econômico, especialmente com empresas transnacionais. “Isso alimenta percepções segundo as quais se atribui essa conotação imperialista, mas na verdade o Brasil está mais preocupado em articular uma comunidade sul-americana dentro da lógica de buscar mais equilíbrio com seus interlocutores externos. O Brasil não aspira a hegemonia e não tem condições de exercer uma liderança inconteste no seu espaço”, concluiu.


Fonte: Opera Mundi

Nenhum comentário:

Postar um comentário