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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Forte contingente policial impede grande manifestação na Argélia


Um intenso desdobramento policial impediu neste sábado (19/02), novamente através da força, que centenas de pessoas se manifestassem no centro de Argel. Eles foram convocados pela Coordenadoria Nacional pela Democracia e a Mudança (CNDC), que exige a democratização do regime argelino.

Centenas de agentes policiais tomaram desde o começo da manhã a praça Primeiro de Maio, no centro da capital, de onde a manifestação sairia e se desdobraram em cordões pelas ruas adjacentes reprimindo qualquer tentativa de se formar uma concentração.

A presença e o controle policial foram mais intenso e efetivo neste sábado do que há sete dias, quando cerca de três mil pessoas conseguiram se concentrar durante horas em uma rua próxima à praça, o que significou o primeiro grande protesto na capital em anos.

Os agentes policiais empurraram e usaram cassetetes contra os manifestantes cada vez que estes permaneciam durante alguns minutos parados em alguma área, os dividindo em grupos cada vez menores até que conseguiram dissolver os protestos.

Os manifestantes, em sua maioria jovens e estudantes, mas também trabalhadores de diferentes setores, advogados e militantes de direitos humanos, gritaram palavras de ordem como "estamos fartos deste poder", "abaixo a opressão" e outras como "poder assassino" enquanto a polícia empregava a violência contra eles.

Os cordões policiais impediram que outros cidadãos se juntassem aos grupos de manifestantes isolados, mas apenas observaram alguns adolescentes que tentaram provocar os manifestantes gritando palavras de ordem a favor do presidente do país, Abdelaziz Bouteflika.

Entre todos, firme aos seus 91 anos, a figura mais apreciada e popular da CNDC era o presidente de honra da Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos (LADDH), Ali Yahia Abdenur.

O incansável advogado e combatente dos direitos civis se transformou no símbolo e na voz mais respeitada da contestação na Argélia, onde os líderes dos partidos opositores estão consideravelmente desprestigiados.

"Milhares de policiais que impediram os jovens dos bairros de Argel de chegar à praça, em todas as cidades do país deixaram as pessoas partirem de carro em direção à capital, mas anotaram suas placas e os detiveram a 40 quilômetros de Argel", afirmou Abdenur.

Assediado pelos adolescentes partidários do regime, Abdenur considerou que a "mobilização do povo e, sobretudo, da juventude, será impressionante quando os argelinos puderem se manifestar pacificamente sem serem espancados e sem medo". "Seguiremos nossos protestos até que este estado de sítio acabe e os jovens desçam às ruas. A juventude será o futuro do país ou será a explosão cega que virá", advertiu.

O ativista ressaltou que o povo argelino "precisa de canais para se expressar" porque é um povo "desgraçado, que não tem liberdade, nem trabalho, que está menosprezado e esmagado".

Segundo fontes da CNCD, pelo menos dez pessoas foram feridas pelos policiais, entre elas duas com gravidade: um cidadão e o deputado do Reagrupamento pela Cultura e a Democracia (RCD), Tahar Besbes.

"Um agente policial lhe deu um golpe no estômago que o fez cair ao chão e perder os sentidos após levar golpes na cabeça", afirmou o porta-voz do RCD, Mohcen Belabés. Ele revelou que os policiais impediram durante vários minutos que Besbes pudesse ser socorrido e levado ao hospital Mustafá Bacha.

Outro deputado desta formação ficou ferido além de uma mulher representante de uma organização da sociedade civil, assinalou Belabés.

O porta-voz do RCD assegurou que "a presença policial foi dobrada neste sábado com relação ao já impressionante dispositivo do sábado passado" e denunciou que "dezenas de jovens pagos pelas autoridades tentaram provocar distúrbios violentos entre os manifestantes".

O presidente do sindicato autônomo da administração pública SNAPAP, Rachid Malauí, também ficou ferido, segundo fontes da CNCD, que asseguraram que as autoridades interromperam os trens que iam em direção a Argel e o transporte público de ônibus para impedir o acesso ao protesto.

Um dos porta-vozes da coordenadoria, Fodil Bumala, disse que 40 mil policiais se desdobraram na capital, mas considerou, no entanto, que o protesto deste sábado registrou "15% a mais de participação" que o do sábado passado.

Dezenas de mães e familiares de desaparecidos durante a década de 1990 se juntaram aos protestos em torno da praça Primeiro de Maio levando grandes fotos de seus filhos e irmãos, e reivindicando informações sobre eles.


Fonte: EFE

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