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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Reforma no Egito pode reequilibrar processo de paz, diz professor


Os levantes populares que começaram a eclodir em países árabes a partir do dia 25 de janeiro levantaram uma série de preocupações entre organismos internacionais e países de grande representatividade no cenário global.
Manchetes sobre possível alta nos preços do petróleo, proliferação de protestos para outros países, apoio do governo americano aos regimes ditatoriais da região e o pavor do ocidente com a possível chegada de grupos religiosos e extremistas ao poder tomaram conta dos noticiários.

Mas as preocupações são muito maiores que os riscos, conforme a análise do pró-reitor de Externsão e Assuntos Comunitários da Unicamp, Mohammed Habib. Egípcio, formado em engenharia agronômica pela Universidade de Alexandria, ele mora no Brasil desde 1972, e conversou com o G1 sobre os acontecimentos em sua terra natal.



Protestos pragmáticos, não ideológicos

Para Habib, os protestos são frutos de 'um processo de deterioração da qualidade de vida da população egípcia, desde que Mubarack assumiu o poder em 1971'.

'O povo está nas ruas por questões puramente pragmáticas, e não ideológica. Eles reinvidicam saúde, educação, transporte, o fim da corrupção. É um movimento desorganizado, espontâneo, iniciado por jovens e que depois ganhou a adesão de sindicatos e grupos políticos', explica.

Ele afirma ser normal que partidos e instituições tentem penetrar e tomar a frente nas manifestações, para participar do processo de transformação. Mas partidos de orientação mais radical, como a Irmandade Muçulmana, possuem representatividade simbólica no país.
'Não existe a possibilidade de estes movimentos religiosos tomarem o poder. Imagine as eleições diretas no parlamento do Egito, onde a força destes grupos, reunidas, não ultrapassa os 5% das cadeiras. O povo egípcio não está preocupado com ideologia e nem com religião', reforça.

A queda do ditador Hosni Mubarak é inevitável, segundo Habib. Difícil é prever em quanto tempo isso acontecerá. O vice-reitor acredita que dois fatores serão determinantes nesse aspecto. O primeiro deles é a intervenção da comunidade internacional. Pressões externas e o oferecimento de abrigo por algum país aliado do regime podem acelerar a saída.
O segundo leva em conta a disposição dos manifestantes em persistir com os protestos, o grau de violência utilizado nas repressões e os acordos internos que ele conseguir 'costurar' com os movimentos oposicionistas.



Reequilíbrio de forças

O ex-diretor da AIEA (Agência Nuclear da ONU) e prêmio nobel da paz Mohamed ElBaradei assumiu a posição de porta-voz da oposição, desde que chegou ao país e se integrou às manifestações populares. Seus discursos têm reunido leigos, cristãos e muçulmanos em torno de um objetivo único - a derrubada de um modelo de governo que não serve ao país há muito tempo.
'Baradei sempre foi visto como um profissional técnico altamente qualificado. E está mostrando planos de apresentar uma proposta para uma nova constituição democrática, que será discutida em plebiscito popular, posteriormente', conta Habib. O ex-diplomata também é visto com bons olhos pelo governo dos EUA, que o considera 'moderado'.

De qualquer maneira, uma reforma deste porte no governo egípcio resultaria em mudanças na política externa do país - seja com El Baradei ou com outra possível liderança.
'Israel já percebeu que seu maior defensor no Oriente Médio está caindo. E vai ter que se preocupar com uma nova realidade nas negociações do processo de paz. Será preciso trabalhar com propostas mais razoáveis e equilibradas', prevê.
'A democratização do mundo árabe fortalece o lado palestino nas negociações', conclui o professor.


Fonte: G1
Por: Germano Assad

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