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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Manifestantes egípcios marcham rumo ao palácio de Mubarak no Cairo

Manifestantes lotam as ruas do Cairo; multidão se rebela depois que Mubarak
 anuncia que continuará no poder

Ao menos 2.000 manifestantes deixaram a praça Tahrir, palco de protestos que exigem a renúncia de Hosni Mubarak há 17 dias, e marcham agora rumo ao palácio presidencial, onde está o ditador, indica a emissora CNN.
A TV árabe Al Jazeera também confirma a informação e seu correspondente no centro do Cairo diz que entre a multidão ouvem-se gritos de "Estamos indo ao palácio presidencial. Estamos indo como milhões de mártires".

Os protestos ocorrem em reação ao pronunciamento do ditador Hosni Mubarak, que nesta quinta-feira recusou-se a deixar o comando do país, frustrando expectativas de que renunciaria. Ele apenas passou grande parte de seus poderes de governo ao vice, Omar Suleiman.

Ainda de acordo com o correspondente do jornal britânico "Guardian", o prédio das emissoras de rádio e TV estatais do Egito também está sendo cercado pelos manifestantes, que prometem mostrar sua fúria frente à permanência de Mubarak no cargo.

Às 2h14 locais (22h14 em Brasília), o clima nas ruas do centro do Cairo é de raiva e antecipação pelas primeiras horas da manhã de sexta-feira, dia das orações sagradas para os muçulmanos.
Estima-se que o dia registre violentos protestos em todo o país. Mais cedo, milhares demonstraram sua frustração após o discurso de Mubarak e pediram que o Exército se unisse a eles contra o ditador.

Centenas de manifestantes tiraram os sapatos e os agitaram em frente aos telões pelos quais assistiam ao discurso de Mubarak --um insulto em sociedades árabe--, enquanto outros gritavam: "Abaixo Mubarak, saia, saia!"
Outros, ainda, pediram a convocação de uma greve geral e dirigindo-se aos militares, que mobilizaram grande número de tropas na região central do protesto: "Exército egípcio, o momento da escolha é agora, o regime ou o povo!".

ELBARADEI E IRMANDADE MUÇULMANA

Mais cedo, o líder da oposição egípcia Mohamed ElBaradei reagiu em sua conta no Twitter. "O Egito explodirá. O Exército deve salvar o país agora", afirmou o vencedor do prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica das Nações Unidas).
Já o porta-voz da Irmandade Muçulmana egípcia, Issam al Arian, garantiu que não farão nesta quinta-feira nenhum comentário sobre o discurso pronunciado nesta quinta-feira à noite pelo ditador Hosni Mubarak, no qual delegou poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman.

Membro da direção do grupo islâmico, o maior da oposição egípcia, al Arian insistiu que a Irmandade não se pronunciará oficialmente até a sexta-feira.

Nesta quinta-feira, em entrevista coletiva, os integrantes da Irmandade Muçulmana classificaram de "monólogo" o diálogo iniciado, junto de vários grupos políticos e personalidades com Suleiman e exigiram uma transição rápida "a partir da antiga legitimidade".

"Rejeitamos o monólogo, o que queremos é diálogo. Queremos soluções em dias e não em meses", afirmou nesta quinta outro porta-voz da organização islâmica, Mohammed Mursi.

Vice egípcio, Omar Suleiman (à esq.) receberá parte dos poderes do ditador Hosni Mubarak


VOLTEM PARA SUAS CASAS

Pouco após receber parte dos poderes de governo do ditador Hosni Mubarak, o vice-presidente egípcio Omar Suleiman falou à nação na TV estatal pedindo aos manifestantes que voltem para casa e para seus postos de trabalho, solicitando assim o fim dos protestos que há 17 dias acontecem no país.

"Aos que estão preocupados com a estabilidade do Egito, peço que se unam para o bem do país", afirmou Suleiman em seu primeiro pronunciamento após receber poderes do ditador Mubarak.

O vice causou polêmica ao dizer que os manifestantes não devem dar atenção às emissoras por satélite (estrangeiras como as árabes Al Jazeera e Al Arabiya, a britânica BBC e a americana CNN) "que não têm interesse no benefício do Egito".
Desde o início da crise Suleiman tenta sugerir que agentes israelenses ou membros de países ocidentais estejam entre os organizadores dos protestos como "espiões", defendeu-se a CNN minutos depois.

"O movimento '25 de Janeiro' conseguiu atingir mudanças importantes. Já em seu outro discurso o presidente [Hosni Mubarak] tinha mencionado reformas nacionais. Ele é responsável pelas ações nacionais para preservar a segurança e a estabilidade do Egito, para restaurar a paz e a tranquilidade e a normalidade nas ruas do país", disse.
Analistas indicam que a primeira fala de Suleiman aos manifestantes --que estão enfurecidos e desapontados com o fato de que Mubarak não renunciou-- envia sinais cruzados ao saudar o movimento como uma "revolução" mas ao mesmo tempo pedir para que todos "voltem para casa".

"Abrimos a porta do diálogo e esta porta ainda está aberta para mais diálogo. Neste contexto, me comprometo a fazer o que for preciso para que a transição de poder ocorra", concluiu.


Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, não renunciou e disse que
apenas passa parte dos seus poderes ao vice

MUBARAK

No esperado pronunciamento desta quinta-feira, o ditador egípcio, Mubarak rejeitou a influência de outros países em acontecimentos políticos em seu país, e prometeu fazer uma transição democrática até setembro deste ano. Parte de seus poderes foram passados para o vice-presidente Omar Suleiman, mas Mubarak permanece no cargo até as novas eleições.

"Não vou deixar-me influenciar por demandas ou ingerências de outros países", disse ele. "Começamos um diálogo nacional construtivo, e isto resultou em harmonia para que consigamos avançar a um cronograma e para que implementemos uma transição democrática até setembro".

Além de prometer punir os responsáveis pela repressão violenta aos protestos, o ditador admitiu as exigências dos manifestantes. "Sua demandas são justas e legítimas. Posso lhes dizer que eu, como presidente da República, respondo às causas de vocês e estou também constrangido", disse.

No entanto, deixou claro que se mantém à frente do país até as novas eleições, embora com parte de seus poderes sendo repassados a Suleiman. "Já disse antes que não vou concorrer às eleições de setembro e que me mantenho como protetor da Constituição e do povo egípcio. Esta promessa eu vou manter e me comprometo a transferir o poder a quem vencer as eleições de setembro", afirmou.

Mubarak dirigiu-se ao povo egípcio, mas destacou os jovens, que deram início aos protestos no dia 25 de janeiro e compõem a maior parte dos manifestantes.
"Estou falando a vocês, como um símbolo da nova geração do Egito, eu lhes posso contar, antes de qualquer coisa, que o sangue de seus mártires não foi derramado em vão e que vou condenar todos aqueles que cometeram crimes contra vocês", afirmou.

Comentando sobre os quase 300 mortos, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), o ditador disse: "posso dizer também a todos os familiares dessas pessoas que tudo o que aconteceu me causou dor".


Multidão retira os sapatos, em gesto ofensivo no mundo árabe; Mubarak não renuncia e causa revolta

MUDANÇAS

Mubarak defendeu sua permanência no cargo, apenas passando parte de seus poderes ao vice, dizendo que os trabalhos para a transição de poder já estão avançando.
"Começamos um diálogo nacional, construtivo, e isto resultou numa harmonia para que consigamos avançar a uma espécie de cronograma e plano de trabalho para que implementemos uma transição democrática até setembro. Hoje recebi do comitê que formei o primeiro texto das emendas à Constituição", disse.

O ditador comentou ao menos cinco artigos que devem ser alterados na Constituição egípcia: 76, 77, 88, 93 e 189, e disse ainda que o artigo 179 deve ser abolido.
Quanto ao estado de emergência, disse que é preciso garantir que o cancelamento da medida não comprometa a segurança do país.

"A prioridade agora é restaurar a confiança entre os próprios egípcios, na nossa economia e na nossa imagem internacional, demonstrando que estamos comprometidos com as mudanças propostas", disse.
O ditador afirmou que a economia está sendo danificada dia após dia e que os manifestantes que pedem pelas mudanças serão as vítimas desses danos econômicos.
"Nunca sucumbi a pressões internacionais. Lutei pelo Egito, e nunca tentei ter mais autoridade", disse.


Manifestantes antigoverno reunidos na praça Tahrir, no Cairo; ditador diz que continua no poder


RUMORES

Mais cedo, vários funcionários do alto escalão no Egito afirmaram à imprensa que Mubarak, no poder há 30 anos, deve atender nas próximas horas "às exigências" dos manifestantes da oposição, que querem sua renúncia imediata.
Os rumores deram a entender que ele deixaria o cargo, o que não aconteceu.

Mubarak resiste há 17 dias aos protestos que reúnem milhares de egípcios nas ruas de Cairo e de outras cidades, inspirados na revolta popular que derrubou o ditador da Tunísia no mês passado. Os manifestantes exigem reformas democráticas e criticam o alto desemprego e pobreza durante o governo de mão de ferro de Mubarak.

"Eu espero que o presidente responda às reivindicações do povo porque, no fim das contas, o que importa para ele é a estabilidade do país", declarou Badrawi.
O dirigente não disse se estava se referindo a uma possível renúncia de Mubarak, mas um alto oficial militar, que pediu para não ser identificado, afirmou estar "esperando ordens que farão o povo ficar feliz".

Badrawi afirmou ainda que Mubarak deve fazer na noite desta quinta-feira (esta tarde em Brasília) um discurso à nação, aumentando a especulação de renúncia.
O canal de TV Al Arabyia afirmou que Mubarak viajou para o resort de Sharm El Sheikh com o chefe das Forças Armadas, sem dar mais detalhes.
Nos Estados Unidos, o diretor da CIA (agência de inteligência americana), Leon Panetta, afirmou que há uma "forte possibilidade" de Mubarak renunciar ainda na noite desta terça-feira. A declaração foi feita em audiência no Congresso americano.



Fonte: Folha

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