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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

PARTE 1 - A AMAZÔNIA E A COBIÇA DO IMPERIALISMO


A Amazônia é um fato territorial sul-americano que, cobiçada como celeiro de riquezas, transpõe os limites do Pacto Amazônico (firmado em 3 de junho de 1978) e da América do Sul, transformando-se em fato geopolítico, logo espaço de intromissão imperialista. (A crise colombiana e a intervenção dos EUA não deixam dúvidas quanto a isso.) A principal nação a ser afetada pela cobiça imperialista é o Brasil, detentor da maior parte dela.

Mas é exatamente este fato territorial, cuja virtualidade espacial e econômica pode nuclear a fundação de uma potência no hemisfério sul, o elemento central sobre o qual se voltam os interesses estratégicos do imperialismo norte-americano. Compactua com ele a avidez da Europa ocidental e do Japão, na doce ilusão de dividirem a riqueza amazônica, como se a superpotência lhes permitisse tamanha ousadia, para além das sobras supérfluas. (Talvez lhes conviesse mais que a Amazônia continuasse sul-americana e clandestina). Mas a estratégia norte-americana é outra. Aos EUA não convém confrontar-se com uma possível potência rival no espaço das Américas; este espaço eles o tem como exclusividade sua. Claro, não está em disputa um deserto inútil. Disputa-se um esplêndido território, cuja riqueza pode prolongar a supremacia mundial da Norte-América. A energia existente no subcontinente meridional é vital ao grande irmão. A posse colonial e a fragmentação territorial. Eis a estratégia do imperialismo para os seus espaços periféricos. A Amazônia e a América do Sul se enquadram nesta terrível lógica.

Para este fim serve a ideologia da Amazônia como patrimônio da humanidade; serve, também, a contínua ameaça – às vezes velada, às vezes explícita – da sua internacionalização. Para este propósito, criam-se mitos verdadeiros e fatos falsos. Ou falseiam fatos e justificam mitos, numa preparação dirigida da opinião pública, cooptada por uma mídia devidamente condicionada. Nesta onda, surfam "intelectuais" alienados. Tal se dá com as questões indígena e ambiental, com o narcotráfico e com a estória da "Amazônia pulmão do mundo", desvirtuando-lhe o sentido e o alcance, numa pretensa ignorância da função oxigenadora dos oceanos e mares..

Territorialmente a Amazônia corresponde a 1/20 da superfície terrestre, 2/5 do continente sul-americano, e mais da metade do território brasileiro. Além do Brasil, ela incorpora a Bolívia, a Colômbia, o Equador, a Guiana, a Guiana Francesa, o Peru, Suriname e a Venezuela. A Amazônia brasileira, que incorpora os estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, o oeste do Maranhão e o norte do Mato Grosso, se considerada nos seus aspectos geodésicos e políticos, mede mais de cinco milhões de km², com uma população que não chega aos 20 milhões. Mas, esposando aqui a opinião do Almirante Gama e Silva, a verdadeira Amazônia brasileira tem cerca de 4,048 milhões de quilômetros quadrados, sendo 3,648 milhões ocupados por vegetação natural, e o restante ocupado por rios, lagos e usos institucionais ou diversificados.

A Amazônia possui 1/5 da água doce do planeta, 1/3 das florestas latifoliadas. Ambicionada a sua diversidade biológica. É o maior banco genético da Terra. Não se tem ainda conhecimento pleno da quantidade de espécies vegetais e animais que nela existem. Já se computaram milhares de espécies vegetais e uma quantidade maior ainda de espécies animais. Além da floresta, ela inclui matas de várzea, campos e cerrados. Calcula-se em mais de um trilhão de dólares o valor da madeira de lei que dela se pode extrair, valorizadas no mundo inteiro, principalmente com a previsão, para as próximas décadas, do esgotamento das florestas tropicais da Ásia e da África. Existe na Amazônia mais de 100 espécies de madeiras nobres. Apenas 10% são conhecidas no exterior. No entanto, na Amazônia, uma ocupação racional e cientificamente planejada encontrará uma natureza favorável à rápida regeneração da floresta. Na imensidão das suas águas, a produção pesqueira atual retira mais de 180 mil toneladas por ano. Isto numa Amazônia ainda praticamente inexplorada, permitindo estimar-se em mais de 300 mil toneladas/ano esse potencial.


Na Amazônia, está uma das maiores reservas mundiais de minerais estratégicos, cujo valor não se pode ainda dimensionar. Ouro no Pará, no Amazonas, em Roraima e no Amapá; ferro no Pará (serra dos Carajás), no Amapá, no Amazonas; sal-gema no Amazonas e no Pará; manganês no Amapá, no Pará e no Amazonas; bauxita no Pará (Oriximiná, no rio Trombetas e em Tucuruí), além de calcário, casseterita, gipsita, linhita, cobre, estanho, nióbio, tântalo, zircônio, criolita (usada como fundente na eletrólise do alumínio), caulim, diamante, chumbo, níquel. De vários destes minérios, o Brasil possui as maiores jazidas do mundo, estando, nos demais entre as maiores reservas.

Resumindo: sobre o rico potencial amazônico, não faltam hoje estudos sérios. Desta forma, passo batido sobre o seu potencial petrolífero e sobre a existência de material radioativo, para a combustão nuclear, como o tório. Contudo, não posso omitir três questões que as julgo estratégicas para a geopolítica do século XXI: a era dos carboidratos que substituirá a era dos hidrocarbonetos, esta já em processo de declínio acelerado; a imensidão amazônica como o maior "vazio" geográfico que, apesar do clima quente e úmido, pode ser imediatamente ocupado, somando-se a isso o fato, nada desprezível, de que a Amazônia dispõe de quase 2,5 milhões de km² de terras propícias para a agricultura – 8% das disponibilidades mundiais. (Estudo sobre a produção mundial de alimentos, promovido pelo Governo dos EUA em 1967 – "The World Food Problem"); e a localização estratégica como núcleo de integração da América meridional, tanto para a unidade política da América Latina, quanto para a centralização de um poder imperial em novo processo colonial do subcontinente.

Todavia, para impedir a biopirataria e a exploração predatória de grupos clandestinos ou consentidos e de empresas estrangeiras lá instaladas, (mais de duas dezenas, quase todas asiáticas), cuja ação devastadora é cinicamente ignorada pelo Governo, os brasileiros precisam ocupar racionalmente a Amazônia, através de um planejamento estratégico, metódico, para obstar, não só a sua devastação, mas, também, para impedir que ela escape ao seu domínio. Povo que não sabe usufruir da riqueza que possui, acaba vendo-a devastada e surrupiada por estranhos.

Ninguém desconhece a grande dependência que os países desenvolvidos têm do petróleo. Embora as reservas mundiais, hoje estimadas em um trilhão de barris, possam garantir o abastecimento, ao ritmo atual de consumo, por mais quatro ou cinco décadas, independentemente de novas descobertas, a verdade é que a maior parte destas reservas não se localiza no território dos países centrais. Os EUA já importam aproximadamente 60% do petróleo que consomem. No ritmo atual, as reservas ainda existentes no seu subsolo terminarão na próxima década, passando a depender totalmente do petróleo importado, ainda que, no futuro, este combustível perca importância graças ao desenvolvimento tecnológico, rumo a novas fontes de energia.

Porém, não apenas de petróleo depende o desenvolvimento dos países ricos. Eles têm uma dependência, praticamente vital para continuarem ricos e formosos, de uma enorme quantidade de minérios, sem os quais a sua economia industrial desmorona.

Fim da Parte 1

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