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domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Crise política ameaça levar 16 milhões de egípcios à miséria", diz OCDE


Filas em lojas, bancos fechados, empresas temporariamente paradas e alimentos faltando nas prateleiras. No Cairo, a capital egípcia, enquanto os confrontos entre partidários e oposicionistas ao presidente Hosni Moubarak se intensificam em seu 13º dia, a população sofre com os efeitos econômicos da crise.

“A escassez de alimentos e produtos farmacêuticos começou e isso provocou um aumento dos preços e a emergência de um mercado negro”, revela Ania Thiemann, economista responsável pelo Oriente Médio e Norte da África da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), com sede em Paris.

A mobilização política para pôr fim aos 30 anos de governo Moubarak no país afeta em cheio o turismo, atividade que representa 11% do PIB, e deve enfraquecer o crescimento econômico. A bolsa de valores do Cairo, fechada desde o dia 25 de janeiro, deve reabrir apenas na segunda-feira.

Para Ania, que coordena o programa da OCDE para a reestruturação econômica do Egito, a alta dos preços dos bens de primeira necessidade ameaça 20%, de um total de 80 milhões de egípcios, que podem retornar para abaixo da linha de pobreza. A alimentação representa entre 40% e 60% dos gastos das famílias. “Quando os preços aumentam é uma catástrofe para as camadas mais pobres da população”, diz. 

O governo egípcio subvenciona o básico: trigo, farinha, açúcar e óleo de cozinha. Padarias do Estado fornecem pão a um preço estável desde os anos 80, mas elas não têm mais conseguido produzir. “As pessoas comuns encontram verdadeiras dificuldades para encontrar alimentos nas grandes cidades”, denuncia a especialista.

O caos econômico imediato pode ser usado a favor do governo, para enfraquecer as manifestações populares, segundo El Mouhoub Mouhoud, professor de economia da Universidade Paris Dauphine e membro do Círculo de Economistas Árabes, na França. “O poder joga com a degradação pela violência e pelo sucateamento da situação econômica no dia a dia, gerando um impacto de curto prazo. Uma vez que nós reabrirmos os bancos, a bolsa e redistribuirmos normalmente os produtos alimentares, as coisas voltarão ao normal”, afirma.

Europa

A Europa não deve ser afetada pela deterioração da economia egípcia. “O choque será dispersado entre vários países e sentido regionalmente”, prevê Ania. Será necessário um plano de retomada econômica para o Egito.

“A pressão migratória é muito fraca. É um grande país que até agora tinha uma economia bem diversificada”, completa. Os analistas descartam a possibilidade de egípcios tentarem, no velho continente, melhores condições de vida ou refúgio político.
 
El Mouhoud defende que uma transição para um regime democrático torne possível o retorno da diáspora egípcia. “Fenômeno que já podemos observar na Tunísia”, aponta.

Caso a instabilidade e a violência persistam e um cenário migratório se forme, os destinos prioritários continuariam sendo os países do Golfo Pérsico, Estados Unidos e Inglaterra.

Mercado Internacional

As inquietudes em relação a um bloqueio do abastecimento mundial de petróleo, fizeram o preço do barril de petróleo ultrapassar a marca dos 100 dólares, na última semana. O Egito regula uma via estratégica para o escoamento do produto: o Canal de Suez.

Empresas estrangeiras como Nissan, Nestlé, Vinci e Lafarge já repatriaram parte de seus funcionários.

Comércio Sul – Sul

 As exportações do Brasil para o mundo árabe atingiram seu maior volume em 2010. Um aumento de 45% em relação a 2009, de acordo com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira. O Egito é o segundo maior destino das mercadorias nacionais na região.

A 3ª Cúpula América do Sul- Países Árabes (Aspa), prevista para mês de fevereiro em Lima, no Peru, foi adiada como medida de precaução. A presidente Dilma Rousseff havia confirmado participação no evento que ainda não tem nova data. “Eu acredito que estas negociações tenham sido interrompidas, mas o interesse de uma cooperação entre essas regiões não ira mudar fundamentalmente”, reforça Ania.

Por: Luiza Duarte
Fonte: Opera Mundi

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