Com a queda do ditador tunisiano Zine El Abidine Ben Ali, que figurava no poder havia 23 anos na Tunísia, e os violentos protestos no Egito pela saída de Hosni Mubarack -após três décadas no governo, um futuro de novas perspectivas começa a se desenhar em vários países árabes.
Contra o ex-governante tunisiano e alguns membros de sua família já foram emitidas inclusive ordens internacionais de prisão pela justiça do país, que pretende julgá-los por apropriação de bens do estado e transferência ilegal de fundos para o exterior. Eles foram para a Arábia Saudita, fugindo das manifestações.
Ativistas da 'rede'
Movimentos organizados, oposicionistas e cidadãos comuns têm utilizado a internet e as redes sociais como poderosas ferramentas mobilizadoras. Convocações virtuais para o levante tunisiano e egípcio agregaram milhares de jovens nas ruas e potencializaram o efeito dos protestos.
A internet tem um efeito 'catalisador, multiplicador e acelerador dos movimentos sociais', explica ao G1 o professor de direito internacional da FGV Salem Hikmat Nasser.
'Mas muitos observadores já antecipavam, há tempos, o momento em que as massas árabes se rebelariam contra seus governantes. Ainda assim, não há como garantir que este momento chegou definitivamente, e para todos os países da região', completa.
Para o cientista político e professor de relações internacionais da ESPM Heni Ozi Cukier, o importante papel que a rede e em especial sites como o Twitter e o Facebook estão exercendo nestes processos é fenômeno que se restringe a países estruturados.
'O Egito e a Tunísia, apesar de todos os problemas sociais que enfrentam, possuem uma classe média estruturada e instituições fortes. Agora, países menores já não tem essa capacidade de mobilização, suas populações não tem esse acesso. Qual a penetração do Facebook e do Twitter em países como a Mauritânia, o Iêmen, Omã e outros, na região?' questiona.
Polêmicas à parte, é fato que, enquanto as manifestações organizadas se restringirem aos países de maior envergadura econômica e política da região, os governantes terão motivos de sobra para se preocupar com os efeitos potencializadores da internet.
No Egito, sites que cobrem as manifestações em tempo real como os jornais digitais Dostor e Badil estão com acesso barrado desde quarta-feira, justamente quando as forças de segurança locais começaram a reprimir os protestos de forma mais severa.
Ativistas afirmavam, já na terça-feira, que o Twitter e o Facebook estavam inacessíveis no país.
O portal heredict.org, que monitora a acessibilidade de sites pelo mundo, confirmou a impossibilidade de uso do site de microblogs - que permite trocar mensagens de 140 caracteres no máximo - e do facebook a partir do Egito.
Logo em seguida, um porta-voz do gabinete da presidência do país emitiu comunicado oficial negando qualquer tipo de restrição. 'Respeitamos a liberdade de expressão e lutamos para protegê-la. O governo não iria recorrer a tais métodos', dizia a nota.
De qualquer forma, as medidas não surtiram efeito. Internautas encontraram formas de burlar a censura e trocaram impressões sobre os acontecimentos na Tunísia e no Egito, além de convocar novas mobilizações através do Twitter.
'Ontem todos éramos tunisianos, hoje todos somos egípcios e amanhã todos seremos livres', dizia uma das mensagens mais divulgadas na rede social.
De todo o mundo, choveram ofertas de pessoas com conhecimentos informáticos para realizar ataques aos sites do governo egípcio e às páginas de companhias de telefonia celular, acusadas por internautas de terem cancelado números de telefone de alguns ativistas.
No Facebook, o grupo oposicionista Juventude de 6 de abril (que teve o site retirado do ar durante a noite desta quarta-feira) continua atualizando a situação nas ruas com farto material, incluindo vídeos, fotos e relatos. Eles contam com a ajuda de internautas baseados em várias partes do mundo para manter as atualizações e traduzir os relatos.
'Efeito dominó'
O sentimento de insatisfação com os governos já ronda grande parte dos países árabes e de governos ditatoriais da região há algum tempo. Atos isolados e manifestações pontuais indicavam o que estava por vir.
Para o cientista político Heni Ozi, porém, 'é preciso ter cuidado com a situação e as particularidades de cada país.'
'O Líbano, por exemplo, vive uma situação completamente particular, que nada tem a ver com o que acontece na Tunísia ou no Egito', afirma.
Ainda assim, ele acredita que existem muitas chances de proliferação dos manifestos para países vizinhos. 'E o desfecho dos acontecimentos no Egito é que definirá a escala desta possível multiplicação', disse.
'O Egito sofreu há pouco tempo com ataques terroristas em igrejas cristãs. O governo já estava em alerta. O exército egípcio é estruturado e está preparado para lidar com manifestos sectários e protestos da oposição. O problema é quando a revolta ultrapassa o campo ideológico e se transforma em insurgência popular', explica.
O professor Salem Nasser afirma que os levantes exercem duplo efeito sobre as populações e os governos de outros países árabes. 'As primeiras passam a acreditar que mudanças são possíveis no curto prazo, a partir de demonstrações populares, e os segundos se preocupam com o efeito de contágio'.
Ele faz coro com Heni Ozi, quando diz que os movimentos 'podem ganhar momentum em outros países e provocar mudanças radicais'. E assinala que 'há sinais na Argélia, Iêmen e em outras nações da região'.
A proliferação de revoltas para países menores preocupa autoridades ocidentais pela fragilidade destes regimes. Nesses casos, a tomada do poder por grupos extremistas seria uma possibilidade real e nada surpreendente.
* Com informações de EFE, Reuters e France Presse
Fonte: G1
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