O Egito chega ao quarto dia ininterrupto de protestos, apelidado de Dia da Ira, em que milhares de manifestantes tomaram as principais ruas do país (como o Cairo, Alexandria e Suez) sem dar sinais de que irão recuar frente à polícia até que caia o regime de Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.
Desde ontem a internet no Egito está praticamente inacessível e a população acusa o governo de - ilegalmente - ter "desligado" a internet. O Twitter e o Facebook já estavam inacessíveis e em alguns lugares as linhas de telefonia celular foram cortadas e mesmo a telefonia fixa passa por problemas. A transmissão via satélite do canal Al Jazeera foi cortado no Egito que pode se tornar um verdadeiro buraco negro informacional.
A repressão policial no Egito vem sendo brutal, os mortos são pelo menos oito, centenas de pessoas estão feridas ou foram presas pela polícia e encontram-se em paradeiros desconhecidos. O líder da oposição democrática, o ex-chefe da Agência Nuclear da ONU, Mohamed El Baradei encontra-se preso assim como diversos líderes da Irmandade Muçulmana e de outros partidos de oposição.
Jornalistas, em especial câmeras, são alvos preferenciais da polícia egípcia que tenta somar ampliar o blecaute informacional e proibir que imagens saiam do país.
Os protestos no Egito começaram depois que o líder da Tunísia, Zine el Abdine Ben Ali foi deposto depois de 29 dias de protestos contínuos no país. A queda de um antigo fitador Árabe - forte aliado dos EUA na região - serviu de gatilho para que a revolta se espalhasse para o Egito e mesmo para o Iêmen, onde milhares de manifestantes também exigem a saída de Saleh, no poder há 32 anos.
As imagens reproduzidas pela Al Jazeera e também pela BBC e por outras redes presentes no Egito são estarrecedoras. Frente à extrema violência policial a reação apaixonada e inebriada de milhares - talvez milhões - de egípcios que apenas pelo seu número conseguem forçar as forças de segurança a recuar.
O povo egípcio luta pela queda de Hosni Mubarak e de seu regime e não parecem estar dispostos a aceitar nada além. A mobilização na Tunísia, durante 29 dias, mostrou que o povo pode ter o poder nas mãos. Ou melhor, que o povo pode retomar o poder que ditadores usurparam.
O exército que foi mobilizado nas ruas, até agora, não deu mostras de conseguir conter os protestos e, felizmente, não usaram força total contra a população.
É difícil prever o resultado - em termos de perdas humanas - de um envio de tropas do exército para conter as manifestações: Exércitos são treinados não para meramente conter, mas para destruir um inimigo.
Desdobramentos
Qual será a reação mundial - mesmo entre aliados próximos - se Mubarak decidisse matar a população para se manter no poder? Se isto não acontecer, é difícil que o regime se sustente apenas frente ao número avassalador de manifestantes e frente à crescente insatisfação popular que, finalmente, explodiu.
O grito de guerra dos manifestantes em Alexandria, no Egito, era "Ilegítimo", o que apenas demonstra que um governo - ou mesmo uma ditadura - só se sustentam enquanto povo considerá-lo(a) legítimo(a). Somente a legitimidade popular, ou frente ao povo, garantem a sobrevivência de um regime.
Ao invés de legitimidade, porém, muitos governos escolhem o medo, a violência pura, a intimidação. Ou a aliança com Estados poderosos que o legitimem aos olhos da comunidade internacional.
Lembremo-nos da Revolução Islâmica no Irã. Apenas a pressão popular derrubou o Xá. Chega um momento em que a mera pressão da população, a desobediência civil e o descontrole causado pelo não funcionamento das estruturas mais básicas do Estado acabam por destruir as bases deste mesmo Estado.
Infelizmente em muitos casos a vontade da população não é tão forte, a mobilização não se sustenta e o medo toma conta.
O mais difícil de prever na atual situação é a posição não só do próprio governo egípcio - se reagirá com mais força -, mas dos aliados europeus. Grande aliado da Tunísia, a França logo fez-se de desentendida sobre seu longo apoio ao regime ditatorial de Ben Ali, assim como os EUA se manifestaram frouxamente sobre a Revolução.
No caso egípcio, as "potências amigas" já pediram calma e para que Mubarak aceite fazer algumas concessões à população (ainda que estes dêem mostra de que não aceitarão nada além da deposição do ditador) sem, porém, retirarem seu apoio ao regime. A defesa da "democracia" mostra-se, como de costume, apenas uma fachada para que as potências mantenham sua influência em diversas partes do mundo.
O passo mais difícil na luta contra qualquer ditadura é superar o medo. É mobilizar o povo e, depois, manter a mobilização frente ao aumento da repressão. Esta barreira foi superada no Egito.
Mas uma vez mobilizado, é difícil parar o povo. Ou o governo cai ou se mantém derramando muito sangue. E assume as consequências políticas e sociais.
Desde ontem a internet no Egito está praticamente inacessível e a população acusa o governo de - ilegalmente - ter "desligado" a internet. O Twitter e o Facebook já estavam inacessíveis e em alguns lugares as linhas de telefonia celular foram cortadas e mesmo a telefonia fixa passa por problemas. A transmissão via satélite do canal Al Jazeera foi cortado no Egito que pode se tornar um verdadeiro buraco negro informacional.
A repressão policial no Egito vem sendo brutal, os mortos são pelo menos oito, centenas de pessoas estão feridas ou foram presas pela polícia e encontram-se em paradeiros desconhecidos. O líder da oposição democrática, o ex-chefe da Agência Nuclear da ONU, Mohamed El Baradei encontra-se preso assim como diversos líderes da Irmandade Muçulmana e de outros partidos de oposição.
Jornalistas, em especial câmeras, são alvos preferenciais da polícia egípcia que tenta somar ampliar o blecaute informacional e proibir que imagens saiam do país.
Os protestos no Egito começaram depois que o líder da Tunísia, Zine el Abdine Ben Ali foi deposto depois de 29 dias de protestos contínuos no país. A queda de um antigo fitador Árabe - forte aliado dos EUA na região - serviu de gatilho para que a revolta se espalhasse para o Egito e mesmo para o Iêmen, onde milhares de manifestantes também exigem a saída de Saleh, no poder há 32 anos.
As imagens reproduzidas pela Al Jazeera e também pela BBC e por outras redes presentes no Egito são estarrecedoras. Frente à extrema violência policial a reação apaixonada e inebriada de milhares - talvez milhões - de egípcios que apenas pelo seu número conseguem forçar as forças de segurança a recuar.
O povo egípcio luta pela queda de Hosni Mubarak e de seu regime e não parecem estar dispostos a aceitar nada além. A mobilização na Tunísia, durante 29 dias, mostrou que o povo pode ter o poder nas mãos. Ou melhor, que o povo pode retomar o poder que ditadores usurparam.
O exército que foi mobilizado nas ruas, até agora, não deu mostras de conseguir conter os protestos e, felizmente, não usaram força total contra a população.
É difícil prever o resultado - em termos de perdas humanas - de um envio de tropas do exército para conter as manifestações: Exércitos são treinados não para meramente conter, mas para destruir um inimigo.
Desdobramentos
Qual será a reação mundial - mesmo entre aliados próximos - se Mubarak decidisse matar a população para se manter no poder? Se isto não acontecer, é difícil que o regime se sustente apenas frente ao número avassalador de manifestantes e frente à crescente insatisfação popular que, finalmente, explodiu.
O grito de guerra dos manifestantes em Alexandria, no Egito, era "Ilegítimo", o que apenas demonstra que um governo - ou mesmo uma ditadura - só se sustentam enquanto povo considerá-lo(a) legítimo(a). Somente a legitimidade popular, ou frente ao povo, garantem a sobrevivência de um regime.
Ao invés de legitimidade, porém, muitos governos escolhem o medo, a violência pura, a intimidação. Ou a aliança com Estados poderosos que o legitimem aos olhos da comunidade internacional.
Lembremo-nos da Revolução Islâmica no Irã. Apenas a pressão popular derrubou o Xá. Chega um momento em que a mera pressão da população, a desobediência civil e o descontrole causado pelo não funcionamento das estruturas mais básicas do Estado acabam por destruir as bases deste mesmo Estado.
Infelizmente em muitos casos a vontade da população não é tão forte, a mobilização não se sustenta e o medo toma conta.
O mais difícil de prever na atual situação é a posição não só do próprio governo egípcio - se reagirá com mais força -, mas dos aliados europeus. Grande aliado da Tunísia, a França logo fez-se de desentendida sobre seu longo apoio ao regime ditatorial de Ben Ali, assim como os EUA se manifestaram frouxamente sobre a Revolução.
No caso egípcio, as "potências amigas" já pediram calma e para que Mubarak aceite fazer algumas concessões à população (ainda que estes dêem mostra de que não aceitarão nada além da deposição do ditador) sem, porém, retirarem seu apoio ao regime. A defesa da "democracia" mostra-se, como de costume, apenas uma fachada para que as potências mantenham sua influência em diversas partes do mundo.
O passo mais difícil na luta contra qualquer ditadura é superar o medo. É mobilizar o povo e, depois, manter a mobilização frente ao aumento da repressão. Esta barreira foi superada no Egito.
Mas uma vez mobilizado, é difícil parar o povo. Ou o governo cai ou se mantém derramando muito sangue. E assume as consequências políticas e sociais.
Fonte: Opera Mundi
Por: Raphael Tsavkko Garcia
Por: Raphael Tsavkko Garcia
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