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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Mundo árabe em convulsão

As peças do intrincado jogo de xadrez do mundo árabe se movimentam com rapidez. Desde dezembro, protestos agitam países do norte da África e do Oriente Médio. Na Tunísia, as manifestações contra o desemprego mataram 70 pessoas e derrubaram o ditador Zine Al-Abidine Ben Ali, que fugiu para a Arábia Saudita. Na Argélia, atos contra os elevados preços dos alimentos deixaram saldo de cinco mortos e 800 feridos.

Na Jordânia, o povo sai às ruas contra o desemprego e o governo. Em Omã, a corrupção no seio da monarquia leva à grita popular. Na Mauritânia, homem ateia fogo ao corpo em clamor contra o poder instalado. No Egito e no Iêmen, a população clama contra as ditaduras que se perpetuam no poder. No Líbano, coalizão contra o Hezbolah convocou marcha pacífica em Beirute.

Na disputa, Washington perde peões importantes. Especialistas na região afirmam que o cenário conturbado constitui prova do declínio do peso dos Estados Unidos no contexto das nações. Em Túnis, segundo o Departamento de Estado americano, a ditadura fazia bom trabalho, porque continha o islamismo radical. O Cairo embolsa a maior ajuda militar de Washington no Oriente Médio. Hosni Mubarak, no poder há 30 anos, recebe forte ajuda estadunidense.

Agora, ante o desconforto dos sucessivos episódios de fúria, a equipe de Obama esforça-se para não ser identificada com ditadores. A secretária de Estado, Hillary Clinton, pediu que o Egito moderasse a repressão aos protestos de rua. Apesar do apelo, porém, mais de mil pessoas acabaram na cadeia. O futuro do país, único aliado do Estado judeu no mundo árabe, cobre-se de incertezas.

A tensão crescente no tabuleiro do Velho Testamento dá razão ao rei da Jordânia. Abdullah II afirmou que onda xiita alcançaria a fronteira de Israel. O suceder de fatos parece lhe dizer amém. Somadas ao desastre do Iraque, as movimentações ora registradas dão visibilidade ao Irã xiita dos aiatolás. Teerã, que financiava grupos contrários aos Estados Unidos, começa a pôr os pés no Oriente Médio de regimes autoritários comandados pelos Estados Unidos.

A sombra da antiga Pérsia se espalha pelo Oriente Médio. O governo do Iraque se formou com assessoria iraniana. O Hezbollah, partido político cujo braço social e terrorista tem financiamento de Teerã, emplacou o primeiro-ministro libanês. O Hamas, que domina a Faixa de Gaza, nunca escondeu as estreitas relações com a teocracia xiita. É a profecia de Abdullah II que ganha corpo. A perspectiva do avanço iraniano é real.

Apesar do cenário ainda incerto, um fato é incontestável. O Oriente Médio vai ser remodelado com presença xiita muito forte. A guinada coloca Telavive em situação incômoda — Israel considera o Irã o principal inimigo do país. A tensão no mundo árabe apresenta desafios para os líderes mundiais. Enfrentá-los exige diplomacia mais do que armas.

Fonte: Correio Braziliense

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