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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A eterna miseria do Haiti


Haiti, Um Ano de Terremoto

Crianças confinadas em albergues veem o sonho da educação como algo cada vez mais distante. Homens e mulheres tentam ganhar a vida em meio a escombros. Com baldes na cabeça, em busca da cada vez mas escassa água potável, ou com carrinho de mão, perambulam sem esperança. Esse é um dos retratos do Haiti um ano após o devastador terremoto que deixou mais de 250 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados.

Quem aterriza na terra de Toussaint Louverture tem a impressão de que Porto Príncipe nunca deixou de tremer. Afirmar que desde a tragédia nada mudou seria exagerar no otimismo. De lá para cá, a intervenção estrangeira – antes limitada à atuação das tropas da Minustah, que está no país desde 2004 – se incrementou. Imediatamente após o terremoto, o governo dos EUA enviou pelo menos dez mil soldados ao país. O direito à autodeterminação no Haiti não existe. A miséria e a fome, que já eram parte do cotidiano, também aumentaram.

As Nações Unidas admitem que um ano após o terremoto ainda há mais de 800 mil desalojados vivendo em condições miseráveis. A violência sexual contra mulheres e crianças nos acampamentos também é parte do drama. A epidemia de cólera, que desde outubro do ano passado já cobrou a vida de quase 3,8 mil pessoas e afetou mais de 181 mil haitianos, segundo o Ministério de Saúde do Haiti, ainda tem origem desconhecida. Haitianos responsabilizam as tropas da Minustah por usar o rio Artibonité, fonte de água para a população, como latrina. As fossas comuns abertas para enterrar as vítimas do terremoto agora dão lugar às vítimas da cólera.

O mundo e a América Latina, em especial, não apenas mantêm, como ampliam, sua dívida com o Haiti. Apesar das acertadas críticas ao oportunismo estadunidense e europeu, que veem na tragédia uma porta aberta para a neocolonização da ilha caribenha, pouco foi feito pelos hermanos para ajudar a reconstruir esse país de maneira sustentável.

Não fosse a atuação de duas brigadas internacionalistas da América Latina – a de médicos cubanos e da Via Campesina –, a atuação dos países da região e do bloco da Alba, particularmente, seria, no mínimo, vergonhosa. Pelo menos 1,2 mil médicos cubanos atuam em 40 centros de saúde em todo o país e já trataram de mais de 30 mil pessoas doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve atua na prevenção à doença, percorrendo casa por casa, com folhetos na mão, explicando métodos básicos de higiene para evitar a propagação ainda maior da epidemia. São o maior contingente estrangeiro no país, dedicado a salvar vidas.

Um pequeno grupo de brasileiros da brigada Dessalines da Via Campesina – que também chegou ao Haiti meses antes do terremoto – trabalha sem descanso na instalação de cisternas para captar água da chuva e, assim, amenizar a crise de acesso à água potável. Pelo menos 1,2 mil cisternas já foram construídas, em trabalho conjunto com as comunidades haitianas. A produção de sementes para o plantio de alimentos e a organização de famílias camponesas é parte do trabalho dessa brigada.

A comunidade internacional, inicialmente abalada pela tragédia, prometeu 5,3 bilhões de dólares para a reconstrução das zonas afetadas pelo terremoto. De acordo com o Banco Mundial, apenas 1,2 bilhão de dólares foi entregue. O cenário poderia ser diferente caso a cooperação financeira internacional fosse maior? Talvez. Organizações sociais haitianas afi rmam que sem um governo autônomo capaz de gerenciar os recursos em favor da reconstrução do país e do bem-estar de sua população, qualquer iniciativa financeira corre o risco de permanecer tal como a atual: entregue à organizações não governamentais, nacionais e estrangeiras, e à corrupção institucionalizada.

Tal crise de institucionalidade, refletida durante as controvertidas eleições realizadas em novembro, tende a se agravar ainda mais. O mandato do presidente haitiano René Préval termina no dia 7 de fevereiro, e o segundo turno das eleições ainda não puderam ser realizados. Uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) encarregada de verifi car as acusações de fraude eleitoral poderá indicar que o candidato governista, Jude Celestin, fi que fora da disputa eleitoral no segundo turno. Se isso ocorrer, as eleições serão disputadas pela ex-primeira dama Mirlande Manigat e pelo cantor Michel “Sweet Micky” Martelly, em primeiro e segundo lugar na contagem dos votos, de acordo com a OEA.

A indicação da OEA não deixa de surpreender. Não foi casual a decisão do governo haitiano de deixar fora da disputa eleitoral o partido do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, o Familia Lavalas – um dos mais populares no país – e outros 14 partidos. Está em jogo a promessa de que pelo menos dez bilhões de dólares possam ser investidos em contratos para a reconstrução. Para isso, investidores interessados em transformar o Haiti em uma gigantesca maquiladora, com mão de obra semiescrava, necessitam que o novo presidente esteja alinhado a esses interesses, independentemente das necessidades da população haitiana.

Diante desse cenário, torna-se imperativa a organização social e a solidariedade real, desinteressada, em especial dos governos da América Latina.

Epidemia de cólera já matou 3.889 pessoas no Haiti

O número de vítimas fatais em consequência da epidemia de cólera no Haiti chegou a 3.889, segundo o relatório divulgado nesta quarta-feira, 19, pelo Ministério da Saúde Pública e da População (MSPP) do país.
As autoridades sanitárias informaram ainda que 194.095 pessoas foram diagnosticadas com a doença, das quais 109.015 foram hospitalizadas.
O novo balanço aponta um aumento de 51 mortes com relação ao boletim anterior, divulgado há dois dias.
O departamento de Artibonite, onde surgiu a epidemia, continua sendo o mais afetado, com 852 mortes, seguido pelo departamento de Grand Anse, com 603 vítimas fatais.
Na capital haitiana, Porto Príncipe, já são 377 mortes.

Fonte: Estadao
 
Porque os Estados Unidos devem bilhões ao Haiti
 
Porque é que os EUA devem bilhões ao Haiti? Colin Powell, antigo secretário de Estado dos EUA, definiu a sua política externa como a “regra do Pottery Barn“. Ou seja – “quem quebra, paga”.
Durante 200 anos os EUA fizeram tudo para “quebrar” o Haiti. Estamos em dívida para com o Haiti. Não é uma questão de caridade. Estamos em dívida para com o Haiti por uma questão de justiça. Indenizações. E não apenas os 100 milhões de dólares prometidos pelo presidente Obama – isso são trocos. Os EUA devem ao Haiti bilhões – com Bs maiúsculos.

Há séculos que os EUA têm feito tudo para dar cabo do Haiti. Os EUA usaram o Haiti como uma plantação. Os EUA ajudaram a sangrar o país economicamente desde que ele se tornou independente, invadiu várias vezes o país com forças militarizadas, apoiou ditadores que violentaram a população, utilizaram o país como caixote do lixo para nossa conveniência económica, arruinaram as suas estradas e a sua agricultura, e derrubaram os eleitos pela população. Os EUA até usaram o Haiti como os antigos proprietários de plantações que esgueiravam-se ali para recreação sexual.
Eis a história mais resumida de algumas das principais tentativas dos EUA para dar cabo do Haiti.
Em 1804, quando o Haiti conquistou a sua independência da França na primeira revolução de escravos bem sucedida a nível mundial, os Estados Unidos recusaram-se a reconhecer o país. Os EUA continuaram a recusar o reconhecimento do Haiti durante mais 60 anos. Por quê? Porque os EUA continuavam a escravizar milhões dos seus próprios cidadãos e receavam que o reconhecimento do Haiti encorajasse a revolução dos escravos nos EUA.
Depois da revolução de 1804, o Haiti foi sujeito a um debilitante embargo econômico pela França e pelos EUA. As sanções americanas duraram até 1863. A França acabou por usar o seu poderio militar para forçar o Haiti a pagar indenizações pelos escravos que foram libertados. As indenizações foram de 150 milhões de francos. (A França vendeu todo o território da Louisiana aos EUA por 80 milhões de francos!).
O Haiti foi forçado a pedir dinheiro emprestado aos bancos da França e dos EUA para pagar as indenizações a França. Por fim, em 1947, foi finalmente feito um enorme empréstimo aos EUA para liquidar a dívida aos franceses. Qual o valor atual do dinheiro que o Haiti foi forçado a pagar aos bancos franceses e americanos? Mais de 20 bilhões de dólares – com Bs maiúsculos.

Os EUA ocuparam e governaram o Haiti pela força de 1915 a 1934. O presidente Woodrow Wilson enviou tropas para o invadir em 1915. As revoltas dos haitianos foram dominadas pelos militares americanos – que mataram mais de 2.000 num só confronto. Durante os dezenove anos que se seguiram, os EUA controlaram as alfândegas no Haiti, cobraram impostos e dirigiram muitas instituições governamentais. Quantos bilhões foram aspirados pelos EUA durante esses 19 anos?

De 1957 a 1986, o Haiti foi forçado a viver sob as ditaduras de “Papa Doc” e de “Baby Doc” Duvalier, apoiados pelos americanos. Os EUA apoiaram esses ditadores econômica e militarmente porque eles faziam o que os EUA queriam e eram politicamente “anti-comunistas” – ou seja, como se traduz hoje, eram contra os direitos humanos das suas populações. Duvalier roubou milhões ao Haiti e contraiu uma dívida de centenas de milhões que o Haiti ainda continua a dever. Dez mil haitianos perderam a vida. As estimativas revelam que o Haiti tem uma dívida externa de 1,3 bilhões de dólares e que 40% dessa dívida foi contraída pelos Duvaliers apoiados pelos EUA.
Há trinta anos o Haiti não importava arroz. Hoje o Haiti importa quase todo o seu arroz. Embora o Haiti fosse a capital do açúcar do Caribe, hoje também importa açúcar. Por quê? Os EUA e as instituições financeiras mundiais dominadas pelos EUA – o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial – forçaram o Haiti a abrir os seus mercados ao mundo. Depois os EUA despejaram no Haiti milhões de toneladas de arroz e açúcar subsidiados pelos EUA – arruinando os seus agricultores e arruinando a agricultura haitiana. Ao arruinar a agricultura haitiana, os EUA forçaram o Haiti a passar a ser o terceiro maior mercado mundial do arroz americano. Foi bom para os lavradores americanos, ruim para o Haiti.
Em 2002, os EUA suspenderam centenas de milhões de dólares de empréstimos ao Haiti que deviam ser utilizados, entre outros projectos públicos, como a educação, para estradas. São essas as mesmas estradas que as equipes de salvamento têm tido tanta dificuldade em percorrer atualmente!
Em 2004, os EUA voltaram a destruir a democracia no Haiti quando apoiaram o golpe contra o presidente eleito do Haiti, Aristides.

O Haiti até é usado para recreação sexual tal como no tempo das antigas plantações. Analisem cuidadosamente as notícias e encontrarão inúmeras histórias de abuso de menores por missionários, soldados e trabalhadores caritativos. Mais ainda, há as frequentes férias sexuais que americanos e outros estrangeiros passam no Haiti. Quanto se deve por isso? Qual o valor que lhe atribuiriam se fossem os vossos irmãos e irmãs?
Há anos que empresas americanas têm vindo a conluiar-se com a elite haitiana para dirigir oficinas escravizantes enxameadas de milhares de haitianos que ganham menos de 2 dólares por dia.
O povo haitiano tem resistido ao poder económico e militar dos EUA e de outros desde a sua independência. Tal como todos nós, os haitianos também cometem os seus erros. Mas o poder americano tem forçado os haitianos a pagar um preço enorme – mortes, dívida e abusos.
É tempo de a população americana se juntar aos haitianos e inverter o curso das relações EUA-Haiti.
Esta breve história mostra porque é que os EUA devem ao Haiti bilhões – com Bs maiúsculos. Isto não é uma questão de caridade. É uma questão de justiça. É uma indenização. A atual crise é uma oportunidade para a população americana tomar consciência da história do nosso país no que se refere ao domínio do Haiti e dar uma resposta deveras justa.

Por: allanpatrick


Ex-líder do Haiti 'Baby Doc' volta ao país após 25 anos de exílio

O ex-presidente do Haiti Jean-Claude Duvalier, também conhecido como Baby Doc, retornou ao país 25 anos depois de ser deposto por uma revolta popular.
Duvalier, 59 anos, chegou ao aeroporto da capital Porto Príncipe no domingo, em um voo vindo da França, onde ele vivia exilado.
O retorno inesperado de Baby Doc ao Haiti ocorre no momento em que o país enfrenta uma crise política, uma epidemia de cólera e as dificuldades da reconstrução após o terremoto devastador do ano passado que matou mais de 250 mil pessoas.
Não se sabe ao certo o que motivou o regresso de Duvalier, mas ele disse que quer "ajudar o povo haitiano".
O primeiro-ministro, Jean-Max Bellerive, disse que não há motivo para acreditar que a chegada de Baby Doc vá desestabilizar o país.
"Ele é um haitiano e, como tal, é livre para voltar para casa", disse Bellerive.

Governo violento

Jean-Claude Duvalier tinha apenas 19 anos quando herdou o título de "presidente vitalício" de seu pai, François "Papa Doc" Duvalier, que governou o país de 1957 a 1971.
Baby Doc é acusado de corrupção, repressão e abuso de direitos humanos durante o tempo em que esteve no poder, de 1971 a 1986.
Como o pai, ele contava com uma milícia particular conhecida como os Tontons Macoutes, que controlava o Haiti usando violência e intimidação.
Os Duvalier são tidos por analistas como dois dos mais violentos governantes da História.

Vodu

Papa Doc reforçou sua imagem ameaçadora com um culto de personalidade baseado no vodu haitiano, mas Baby Doc era visto como um playboy.
Em 1986, ele foi deposto por um levante popular após pressão diplomática dos Estados Unidos e fugiu para a França, onde vivia exilado, apesar de nunca ter recebido asilo político formal.
Em uma entrevista em 2007, ele pediu que o povo haitiano o perdoe por "erros" cometidos durante seu governo.
Um pequeno grupos de partidários de Duvalier vinha fazendo uma campanha para que ele voltasse ao Haiti.

Crise política

O retorno de Duvalier ao país aconteceu no dia exato em que deveria ocorrer o segundo turno das eleições presidenciais no Haiti, mas a votação foi adiada por causa de uma disputa em torno dos nomes que deveriam constar na cédula eleitoral.
O candidato governista, Jude Celestin, e o cantor Michel Martelly querem participar do segundo turno com a ex-primeira-dama Mirlande Manigat, considerada vencedora do primeiro turno, em 28 de novembro, em uma votação fortemente criticada por causa de relatos de fraude, violência e intimidação de eleitores.
Resultados provisórios anunciados em dezembro pelo conselho eleitoral apontavam Celestin como o segundo colocado, com pequena vantagem sobre Martelly.
Mas os resultados provocaram protestos violentos por parte de partidários de Martelly, que alegou ter perdido o segundo lugar por causa de fraudes.

Fonte: BBC Brasil



"Baby Doc" espera ser eleito presidente do Haiti, diz porta-voz

O ex-ditador do Haiti Jean-Claude "Baby Doc" Duvalier (1971-1986) espera ser eleito presidente do país, afirmou nesta quarta-feira seu porta-voz. Henri-Robert Sterlin, ex-embaixador do Haiti em Paris, explicounque volta de Duvalier ao Haiti tem por objetivo ocasionar a organização de uma nova eleição presidencial, uma vez que a votação de 28 de novembro passado é alvo de contestações.
"Precisamos agitar as coisas de maneira que as eleições sejam anuladas e novas eleições organizadas para que Duvalier possa concorrer",afirmou. A volta de Duvalier acontece quando o Haiti ainda vive uma grave crise humanitária e política, depois do adiamento sine die do segundo turno da eleição presidencial e um ano depois do terremoto de janeiro de 2010, que deixou 250 mil mortos e centenas de milhares de desabrigados.
O Conselho Eleitoral Provisório do Haiti (CEP), no entanto, informou que não pretende alterar os resultados do primeiro turno da eleição presidencial, publicados em 7 de dezembro, com base no conselho de observadores internacionais, mas deve adotar os procedimentos legais.
Quatro haitianos entraram com quatro processos nesta quarta-feira contra Duvalier por tortura, exílio e prisões arbitrárias, cometidos durante os 15 anos que passou à frente do poder. Duvalier foi indiciado por corrupção e desvio de fundos na terça-feira pela justiça do Haiti, que, no entanto, o deixou em liberdade, menos de 48 horas depois do seu regresso a Porto Príncipe, após 25 anos de exílio na França.

Fonte: Terra

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