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sábado, 29 de janeiro de 2011

O nascimento de um novo país: o Sudão do Sul


Conforme indicam resultados preliminares, no último dia 15 de janeiro a população sulista do Sudão aprovou com 97,5% dos votos a separação da região sul do país africano para a formação de um novo país: o Sudão do Sul.
Este processo separatista foi mais um passo para o desfecho definitivo de um dos maiores conflitos do século XX, a guerra civil sudanesa (1983 – 2005) que deixou em seu percurso mais de 2 milhões de mortos e milhões de refugiados. Os profundos desentendimentos entre o norte e o sul do país só pôde ser encerrado com o tratado de Naivasha em janeiro de 2005 que previa para este ano de 2011 a votação da população sulista acerca da emancipação política local.


As diferenças existentes entre os povos sudaneses foi realmente um fator chave para que todo este violento processo ocorresse por mais de vinte anos. A região sul do país, composta principalmente por uma população negra com uma religiosidade católica ou de crenças locais tradicionais, se sentia menosprezada e não representada pelo Estado sudanês que possui íntimas relações legais com a religião islâmica devido ao seu controle pela população do norte do país que é constituída principalmente por árabes mulçumanos.

 
Porém, não podemos rebaixar este longo conflito a apenas questões étnico religiosas, já que existem neste país africano questões mais profundas envolvendo sua tensa história. Entre o norte e o sul do país, com seus diferentes e tradicionais modos de vida, existem distintos interesses e entendimentos modernos acerca da exploração e do destino dos campos de petróleo. O Sudão, membro da Opep, possui petróleo em abundância, e assim como outros países ricos nesta matéria prima, possui também uma enorme população miserável (mais de 50% da população sudanesa vive abaixo da linha da pobreza), e estes vastos campos de petróleo estão justamente nos limites entre estas duas regiões, o que trázao processo do conflito sudanês uma série de interesses internacionais intimamente interligados ao desenrolar das tensões internas.



Não é a toa que o ex-presidente norte americano George W. Bush – que não é reconhecido por possuir interesse em direitos humanos – foi um dos primeiros chefes de Estado a reconhecer o conflito em Darfur (região oeste do Sudão), como sendo um genocídio, já que os E.U.A não recebem um barril de petróleo do país africano. A dedicação norte-americana a situação sudanesa é refletida até por participações de celebridades no conflito como George Clooney e Angelina Jolie.


Por sua vez, China e Rússia, grandes consumidores do petróleo sudanês, sempre se abstiveram das votações do Conselho de Segurança da ONU contra o governo do Sudão, mesmo assim, o presidente Omar al-Bashir, em exercício à mais de vinte anos, foi condenado por crimes contra a humanidade.
Desta forma, o conflito sudanês se desenvolve dentre uma fusão de questões tradicionais e modernas, que vão além da criação de um novo estado, já que algumas questões antigas não serão resolvidas, assim como surgirão novos pontos a serem debatidos.

Os próximos dois anos para a implementação definitiva do Sudão do Sul não serão calmos como a votação, ainda é necessário decidir como se realizará a exploração dos poços de petróleo do Sudão do Sul, já que grande parte dos oleodutos passa pelo norte, assim como a saída para o mar. Além disso, o Sudão e o Sudão do Sul precisarão definir seus cidadãos, já que existe uma enorme movimentação humana, principalmente de refugiados, nos dois países. Tal processo pode ainda levar ao aumento de conflitos em outras regiões como em Darfur e até em outros países africanos que possuem uma instabilidade política.

De qualquer modo, a principal questão não está sendo amplamente discutida: como utilizar a riqueza do petróleo para desenvolver uma das regiões mais miseráveis do planeta em que mais da metade da população vive com menos de um dólar por dia?


Por: Danilo Ferreira da Fonseca

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